DISCIPULADO
1- NOVO NASCIMENTO - “REGENERAÇÃO”
1. O SIGNIFICADO DO TERMO “REGENERAÇÃO”.
A palavra “regeneração” não é sempre usada no mesmo sentido. Calvino a empregou num sentido muito abrangente para indicar todo o processo da renovação do homem, incluindo até mesmo a conversão e a santificação. Nos nossos padrões confessionais, serve para designar o início da renovação do homem no novo nascimento, mais a conversão. Atualmente, está sendo usada num sentido muito mais restrito, para indicar o ato divino pelo qual o pecador é dotado de uma nova vida espiritual, e pelo qual o princípio dessa nova vida é primeiramente levado a agir. Às vezes, é empregado num sentido ainda mais limitado, como uma designação da implantação da nova vida na alma, não incluindo as primeiras manifestações desta vida. Nesse sentido da palavra, a regeneração pode ser definida como aquele ato de Deus pelo qual o princípio da nova vida é implantado no homem, e a disposição dominante da alma é santificada.
2. A NATUREZA ESSENCIAL DA REGENERAÇÃO.
Os detalhes seguintes servem para indicar a natureza essencial da regeneração:
a) É uma mudança fundamental. A regeneração consiste na implantação do princípio da nova vida espiritual no homem, numa mudança radical da disposição dominante da alma. Em princípio, afeta todo o homem: o intelecto (1Co 2.14–15; 2Co 4.6; Ef 1.18; Cl 3.10), a vontade (Fp 2.13; 2Ts 3.5; Hb 13.21), e as emoções (Sl 42.1–2; Mt 5.4; 1Pe 1.18).
b) É uma mudança instantânea. A afirmação de que a regeneração é uma mudança instantânea implica duas coisas: (1) que não é uma obra gradualmente preparada na alma; não há estágio intermediário entre a vida e morte; e (2) não é um processo gradual como a santificação, mas se completa numa fração de tempo.
c) É uma mudança na vida subconsciente. A regeneração é uma obra secreta e inescrutável de Deus que nunca é diretamente percebida pelo homem, mas só pode ser percebida nos seus efeitos. Naturalmente, o homem pode estar diretamente consciente de uma mudança nos casos em que a regeneração e a conversão coincidem.
3. A ORDEM RELATIVA DA VOCAÇÃO E DA REGENERAÇÃO.
A ordem que a vocação e a regeneração mantêm na sua relação mútua pode ser mais bem indicada como segue: a vocação exterior na pregação da Palavra, exceto no caso das crianças, precede ou coincide com a operação do Espírito Santo na produção da nova vida. Então, por um ato criador, Deus gera a nova vida, mudando a disposição íntima da alma. Isso é regeneração no sentido mais estrito da palavra. Por ela, é implantado um ouvido espiritual que habilita o homem a ouvir o chamado de Deus para a salvação de sua alma. Tendo ele recebido o ouvido espiritual, o chamado de Deus penetra eficazmente o coração, de modo que o homem ouve e obedece.
Finalmente, essa vocação eficaz assegura os primeiros exercícios santos da nova disposição que se origina na alma. A nova vida começa a manifestar-se e resulta no novo nascimento. Isso é regeneração no sentido mais amplo e delineia o ponto em que a regeneração passa à conversão.
4. A NECESSIDADE DA REGENERAÇÃO.
A Escritura não deixa dúvida quanto à necessidade da regeneração, mas a afirma nos termos mais claros (Jo 3.3,5,7; 1Co 2.14; Gl 6.15; cf. também Jr 13.23; Rm 3.11; Ef 2.3). Essa necessidade resulta também da natureza pecaminosa do homem. A santidade, ou conformidade com a lei de Deus, é condição indispensável para se obter o favor divino, alcançar a paz de consciência e gozar a comunhão com Deus (Hb 12.14). Ora, a condição natural do homem é exatamente o oposto dessa santidade tão indispensável. Por conseguinte, é necessário uma mudança interior radical, pela qual toda a disposição da alma seja alterada.
5. O USO DA PALAVRA DE DEUS COMO INSTRUMENTO NA REGENERAÇÃO.
Muitas vezes surge a questão sobre se a Palavra, isto é, a palavra da pregação, é instrumento na implantação da nova vida, na regeneração no sentido mais estrito da palavra. Uma vez que a regeneração é um ato criador de Deus, e a palavra do evangelho só pode operar de maneira moral e persuasiva, podia parecer que essa palavra não seria instrumento para a implantação da nova vida no homem. Esse instrumento não tem efeito espiritual sobre os que ainda estão mortos no pecado.
Afirmar o seu uso nesse caso pareceria implicar uma negação da morte espiritual do homem, embora isso não seja visado pelos que fazem essa afirmação. Além disso, a regeneração realiza-se na esfera da vida subconsciente, ao passo que a verdade se dirige à parte consciente do homem. Finalmente, a Bíblia indica de maneira clara que o homem só se torna capaz de entender a verdade por uma operação especial do Espírito Santo (At 16.14; 1Co 2.12–15; Ef 1.17–20).
É muitas vezes dito que Tiago 1.18 e 1Pedro 1.23 provam que a Palavra é usada como instrumento na regeneração. Está claro, porém, que Tiago está falando da regeneração num sentido mais amplo, incluindo o novo nascimento ou as primeiras manifestações da nova vida, e, com toda probabilidade, é esse também o caso de Pedro. E nesse sentido mais inclusivo a regeneração é, sem dúvida alguma, efetuada pela instrumentalidade da Palavra.
6. A REGENERAÇÃO É EXCLUSIVAMENTE UMA OBRA DE DEUS.
Deus é o autor da regeneração. Ela é apresentada na Escritura como obra direta e exclusiva do Espírito Santo (Ez 11.19; Jo 1.13; At 16.4; Rm 9.16; Fp 2.13). Isso significa que, na regeneração, só Deus opera, e nessa obra não há, de modo algum, cooperação do pecador. Os arminianos não concordam com esse ponto de vista. Falam da cooperação de Deus e do homem na obra de regeneração. Segundo eles, a renovação espiritual do homem é realmente fruto da sua escolha em cooperar com as influências divinas aplicadas por meio da verdade.
Estritamente falando, consideram a obra do homem anterior à de Deus. O homem pode resistir, mas também pode se submeter às influências do Espírito Santo.
Berkhof, Louis. Manual de Doutrina Cristã. Traduzido por Joaquim Machado. 2a edição. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012.
2- ARREPENDIMENTO E FÉ
1- ARREPENDIMENTO
Anunciei primeiramente… que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento. ATOS 26.20
A palavra “arrependimento” no Novo Testamento significa mudança de mente, de forma que as ideias, valores, metas e costumes são alterados e toda a vida é vivida de modo diferente. A mudança é radical, tanto interior como exteriormente: ânimo e opinião, vontade e afetos, conduta e estilo de vida, motivos e propósitos são todos envolvidos.
Arrependimento significa começo de uma nova vida. O chamado ao arrependimento era a primeira mensagem na pregação de João Batista (Mt 3.2), “Ele dizia: — Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus”, de Jesus (Mt 4.17), “Daí em diante Jesus começou a pregar e a dizer: — Arrependam-se, porque está próximo o Reino dos Céus”, dos Doze (Mc 6.12), “Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse”, de Pedro no Pestecostes (At 2.38), “Pedro respondeu: — Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo”, de Paulo aos gentios (At 17.30; 26.20), “Deus não levou em conta os tempos da ignorância, mas agora ele ordena a todas as pessoas, em todos os lugares, que se arrependam”, (At 26.20) “mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judeia, e também aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento”,e do Cristo glorificado a cinco das sete igrejas da Ásia (Ap 2.5, 16, 22; 3.3, 19). “2.5 Lembre-se, pois, de onde você caiu. Arrependa-se e volte à prática das primeiras obras. Se você não se arrepender, virei até você e tirarei o seu candelabro do lugar dele”, “2.16 Portanto, arrependa-se! Se não, irei até aí sem demora e lutarei contra eles com a espada da minha boca”, “2.22 Eis que farei com que fique acamada, e trarei grande tribulação aos que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita”, “3.3 Lembre-se, pois, do que você recebeu e ouviu; guarde-o e arrependa-se. Se você não vigiar, virei como ladrão, e você de modo nenhum saberá em que hora virei contra você”, “3.19 Eu repreendo e disciplino aqueles que amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se”, Ele fez parte do resumo feito por Jesus do evangelho que deveria ser levado ao mundo (Lc 24.47) “e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando em Jerusalém”, Ele corresponde a constantes apelos dos profetas do Antigo Testamento a Israel para que se voltasse para Deus, de quem se desviara (Jr 23.22; 25.4, 5). “Mas, se tivessem estado no meu conselho, teriam anunciado as minhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do seu mau caminho e da maldade das suas ações.” “25.4 Também sempre de novo o Senhor enviou os seus servos, os profetas, mas vocês não escutaram nem inclinaram os ouvidos para ouvir”, “25.5 quando eles diziam: “Convertam-se agora, cada um de vocês, do seu mau caminho e da maldade das suas ações, e vocês habitarão na terra que o Senhor deu a vocês e aos seus pais, desde os tempos antigos e para sempre”, (Zc 1.3–6) “Portanto, diga-lhes: Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Voltem para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu voltarei para vocês, diz o Senhor dos Exércitos. 4 Não sejam como os seus pais. Quando os primeiros profetas clamavam: ‘Assim diz o Senhor dos Exércitos: Convertam-se dos seus maus caminhos e das suas obras más’, eles não ouviram nem me deram atenção, diz o Senhor. 5 Os pais de vocês, onde estão? E os profetas, será que ainda estão vivos? 6 E não é fato que as minhas palavras e os meus estatutos, que eu prescrevi aos profetas, meus servos, alcançaram os pais de vocês? Sim, estes se arrependeram e disseram: ‘Como o Senhor dos Exércitos tinha intenção de nos tratar, segundo os nossos caminhos e segundo as nossas obras, assim ele nos tratou.”
O arrependimento é sempre apontado como o caminho para a remissão de pecados e para a restauração ao favor de Deus, e a impenitência é indicada como a estrada para a ruína (Lc 13.1–8). “Naquela mesma ocasião, estavam ali algumas pessoas que falaram para Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos havia misturado com os sacrifícios que os mesmos realizavam. 2 Então Jesus lhes disse: — Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? 3 Digo a vocês que não eram; se, porém, não se arrependerem, todos vocês também perecerão. 4 E, quanto àqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou, vocês pensam que eles eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5 Digo a vocês que não eram; mas, se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. 6 E Jesus contou a seguinte parábola: — Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. 7 Então disse ao homem que cuidava da vinha: “Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não encontro nada. Portanto, corte-a! Por que ela ainda está ocupando inutilmente a terra?” 8 Mas o homem que cuidava da vinha respondeu: “Senhor, deixe-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e ponha estrume”.
O arrependimento é fruto da fé, que é, ela própria, fruto da regeneração. Mas, na vida real, o arrependimento é inseparável da fé, sendo o aspecto negativo (a fé é o aspecto positivo) de voltar-se para Cristo como Senhor e Salvador. A ideia de que pode haver fé salvadora sem arrependimento, e que uma pessoa pode ser justificada por aceitar Jesus como Salvador e ao mesmo rejeitá-lo como Senhor, é uma ilusão destrutiva. A fé reconhece Cristo como o que ele realmente é, nosso rei designado por Deus, como também nosso sacerdote dado por Deus, e a verdadeira confiança nele como Salvador será expressa em submissão a ele também como Senhor. Negar isso é procurar a justificação através de uma fé impenitente, que não é fé.
O verdadeiro arrependimento é “contrição”, como exemplificado por Davi no Salmo 51, tendo em seu coração um sério propósito de não mais pecar, mas sim viver doravante uma vida que mostre que o arrependimento foi completo e real. Veja (Lc 3.8), “Produzam frutos dignos de arrependimento! E não comecem a dizer uns aos outros: “Temos por pai Abraão”, porque eu afirmo a vocês que Deus pode fazer com que destas pedras surjam filhos a Abraão”. (At 26.20) “mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judeia, e também aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento”.
Arrepender-se de qualquer vício significa tomar a direção oposta, praticar as virtudes mais diretamente contrárias a ele.
2- FÉ
É o conhecimento, confiança e compromisso com Jesus Cristo que é necessário para salvação.
“Fé” no Novo Testamento geralmente se refere a confiar em Cristo para a salvação ou Deus sendo fiel ao seu povo. No entanto, também é usado ocasionalmente para o conteúdo de crença, como quando Judas 3 se refere à “fé” que foi entregue aos santos. A fé salvadora exige mais do que um mero consentimento mental para a verdade da mensagem do evangelho: como Tiago 2:19 observa, a informação correta dos demônios sobre Deus não é suficiente para obter a eles o favor de Deus.
(Tiago 2:19) "Você crê que Deus é um só? Faz muito bem! Até os demônios creem e tremem.”
Tradicionalmente, a fé salvadora consiste em assentimento, conhecimento e confiança. Uma pessoa passa da crença de que certas coisas são verdadeiras para a crença em Cristo, no sentido de confiança pessoal. Esta confiança inicial, dada em resposta ao convite do evangelho, é o primeiro passo em um relacionamento recorrente da aliança que é marcado pela contínua confiança e fidelidade. A fidelidade humana neste relacionamento é possível pela fidelidade de Deus em Cristo e pela capacitação do Espírito Santo. É por isso que Paulo identifica fé, provavelmente no sentido de fidelidade, como um dom do Espírito (Gl 5.22). (Veja também Romanos 3.3-7, que contrasta a fidelidade de Deus com a falta de fé dos israelitas.)
(Gl 5.22) "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,”
(Rm 3.3-7)“E então? Se alguns não creram, será que a incredulidade deles anulará a fidelidade de Deus? De modo nenhum!Seja Deus verdadeiro, e todo ser humano, mentiroso, como está escrito: “Para que sejas justificado nas tuas palavras e venhas a vencer quando fores julgado.” Mas, se a nossa injustiça evidencia a justiça de Deus, que diremos? Seria Deus injusto por aplicar a sua ira? Falo em termos humanos. É claro que não. Do contrário, como Deus julgará o mundo? E, se a minha mentira faz com que aumente a verdade de Deus para a sua glória, por que ainda sou condenado como pecador?”
Alguns intérpretes da Bíblia acreditam que a fé salvadora é um dom de Deus com base em Efésios 2:8–9, de modo que aqueles que não recebem esse dom são incapazes de acreditar. No entanto, é mais provável que o dom de Deus nesta passagem seja a totalidade da declaração de Paulo de que a salvação é pela graça através da fé. No entanto, o exercício da fé salvadora é possibilitado pela obra prévia do Espírito Santo na vida de uma pessoa.
(Ef.28,9) 8Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
9não de obras, para que ninguém se glorie.
Justificação pela fé foi a grande doutrina da Reforma Protestante, e sola fide (somente pela fé) foi um dos seus grandes slogans. Os protestantes responderam às obras de justiça que eles perceberam na Igreja Católica ao proclamar que uma pessoa é salva pela fé somente, e não por obras.
A salvação era unicamente devida à graça de Deus e não podia ser conquistada - uma doutrina que eles encontraram em Romanos e Gálatas. Todos os cristãos ortodoxos concordam que os seres humanos não podem ganhar ou merecer sua salvação. No entanto, Paulo nunca diz que a salvação é recebida pela fé somente; ele insiste que é recebido pela fé, ao invés de pela obediência à lei mosaica. Na verdade, ele argumenta, a salvação sempre foi baseada na fé, o que ele demonstra pelo exemplo de Abraão.
Algumas interpretações da verdadeira sola fide se divorciaram completamente a fé das obras, reduzindo a fé ao consentimento cognitivo e separando-a das obras que se seguem da fé salvadora, como o fruto vem da semente. Paulo expressa a relação de fé com as obras em Efésios 2:8-10: as pessoas são salvas pela graça através da fé para poderem seguir as obras que Deus planejou para elas. Ele concordaria com Tiago, que declara que uma fé que nunca produz tais obras está morta (Tg 2:17). A fé está voltada para o futuro: antecipa o cumprimento das promessas de Deus, confiando na fidelidade de Deus para o que ainda não é visto (Hb 11:1).
(Efésios 2.8–10) “8Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
9não de obras, para que ninguém se glorie.
10Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas."
(Tiago 2.17) “17Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.”
(Hebreus 11.1) “1Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem.”
3- OS DIFERENTES TIPOS DE FÉ MENCIONADOS NA BÍBLIA.
A Escritura não fala da fé sempre no mesmo sentido, e isso tem dado ocasião às seguintes distinções:
3.1. A FÉ HISTÓRICA. A fé histórica é puramente a aceitação intelectual da verdade da Escritura sem qualquer resposta moral ou espiritual. O termo não quer dizer que essa fé inclui somente fatos e acontecimentos históricos com a exclusão das verdades morais e espirituais, nem se baseia unicamente no testemunho da História. É, antes, uma expressão da ideia de que essa fé aceita as verdades da Escritura como alguém aceita qualquer história pela qual pessoalmente não tem interesse. Isso significa que, embora a verdade seja aceita intelectualmente, não é considerada com seriedade e não desperta nenhum interesse real. A Bíblia refere-se a ela em Mateus 7.26, Atos 26.27,28 e Tiago 2.19.
(Mateus 7.26–27) 26E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. 27Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
(Atos dos Apóstolos 26.27–28) 27— Por isso, pergunto: Rei Agripa, o senhor acredita nos profetas? Eu sei que o senhor acredita. 28Então Agripa se dirigiu a Paulo e disse: — Por pouco você me convence a me tornar cristão.
(Tiago 2.19) 19Você crê que Deus é um só? Faz muito bem! Até os demônios creem e tremem.
3.2 FÉ TEMPORAL. A fé temporal é uma persuasão das verdades religiosas acompanhadas de algum despertamento de consciência e um excitamento das emoções, mas ela não está enraizada no coração regenerado. O seu nome é derivado de Mateus 13.20–21. Chama-se fé temporal porque não tem caráter permanente e falha nos dias de provação e perseguição. Não pode ser considerada fé hipócrita, porque quem a possui crê realmente que tem a verdadeira fé. Pode, no entanto, ser chamada fé imaginária, aparentemente genuína, mas de caráter desvanecível. Distingui-la da verdadeira fé salvadora pode ser muito difícil. De alguém que assim crê, Cristo fala: “Não tem raiz em si mesmo” (Mt 13.21). Em geral, pode-se dizer que a fé temporal se baseia na vida emotiva e procura antes o prazer pessoal e não a glória de Deus.
Mateus 13.20–22 (NAA) 20O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.
21Mas ele não tem raiz em si mesmo, sendo de pouca duração. Quando chega a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. 22O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém as preocupações deste mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera.
3.3 A VERDADEIRA FÉ SALVADORA. A verdadeira fé é a que tem sua sede no coração e está enraizada na vida regenerada. A semente dessa fé é implantada por Deus no coração na regeneração, e só depois que ele a implanta no coração o homem pode exercer ativamente a fé. O seu exercício consciente forma gradualmente um hábito, e este se torna um auxílio poderoso no exercício posterior da fé. Quando a Bíblia fala dessa fé, refere-se a ela geralmente, embora nem sempre, como uma atividade do homem. Pode ser definida como uma firme convicção, efetuada no coração pelo Espírito Santo, quanto à verdade do evangelho, e uma confiança sincera e entusiástica nas promessas de Deus em Cristo.
4- O OBJETO DA FÉ SALVADORA.
Em conexão com o objeto da fé, é necessário distinguir entre fé em geral e fé no sentido específico.
4.1 A FÉ SALVADORA EM GERAL. O objeto da fé salvadora no sentido mais geral da palavra é o conteúdo todo da revelação divina como contida na Palavra de Deus. Tudo o que é explicitamente ensinado na Escritura, ou pode ser deduzido dela por uma inferência boa e necessária, pertence ao objeto da fé nesse sentido.
4.2 A FÉ SALVADORA NO SENTIDO MAIS ESPECÍFICO. Embora seja necessário aceitar a Bíblia como a Palavra de Deus, isso não constitui o ato específico de fé que justifica e consequentemente salva. Deve, como de fato o faz, conduzir a uma fé mais específica. Há certas doutrinas concernentes a Cristo e sua obra, e certas promessas feitas nele aos pecadores, que o crente aceita confiadamente e o induzem a depositar em Cristo a sua confiança. Em resumo, o objeto da fé salvadora é Jesus Cristo e a promessa de salvação nele. O ato especial da fé salvadora consiste em receber Cristo e repousa nele como ele é apresentado no evangelho (Jo 3.15–16,18; 6.40).
João 3.15–18 (NAA)
15para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. 18Quem nele crê não é condenado; mas o que não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
João 6.40 (NVI)
40Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”.
- De Almeida, J. F. (Trad.). (2017). Nova Almeida Atualizada (Edição Revista e Atualizada®, 3a edição). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
- Nova Versão Internacional. (2001). São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional.
- Packer, J. I. (2014). Teologia Concisa: Um Guia de Estudo das Doutrinas Cristãs Históricas. (R. Castilho, Trad.) (3a edição). São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- 55Berkhof, L. (2012). Manual de Doutrina Cristã. (J. Machado, Trad.) (2a edição). São Paulo: Editora Cultura Cristã.
3- CRER E OBEDECER
CRER E OBEDECER
Se alguém quisesse resumir a mensagem da Bíblia, poderia fazê-lo dizendo: “crer e obedecer” ou “crer em Cristo e arrepender-se.” O Catecismo Maior diz deste modo: “O que as Escrituras ensinam principalmente? As escrituras ensinam, principalmente, o que o homem deve crer sobre Deus, e quais deveres Deus requer do homem.” Requer-se dos crentes não só crerem em todo o conselho de Deus (i.e., a Bíblia), mas eles devem também obedecer a todos estes preceitos.
O propósito principal do ministério de Cristo por meio de Paulo era “fazer obedientes os gentios” (Rm. 15:18). Paulo recebeu seu apostolado “para a obediência da fé entre todas as nações” (Rm. 1:5; cf. 16:25-26). Paulo escreveu aos crentes corintos para que vissem se estavam “obedientes em tudo” (2Co. 2:9). Os cristãos são salvos para que obedeçam a Deus. “Pois somos feitura sua, criados em Jesus Cristo para as boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas” (Ef. 2:10). “Aos peregrinos da Dispersão... eleitos de acordo com a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para obediência e aspersão do sangue de Jesus...” (1Pe. 1:2).
Quando Israel afirmou a aliança com Deus eles disseram: “Tudo que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos” (Ex. 24:7). Como Deus requer uma obediência perfeita e perpétua à Sua santa lei, devemos examinar o significado, a natureza e a motivação desta obediência.
O Rei Saul recebeu a ordem de não tomar despojos dos amalequitas, mas destruir tudo, incluindo os animais. Quando o profeta Samuel descobriu que Saul tinha poupado muitos animais para o seu próprio uso, ele o condenou firmemente por sua desobediência. O Rei Saul tentou justificar suas ações dizendo que tinha guardado os melhores dos animais a fim de usá-los para as ofertas de sacrifício a Deus. Pouco impressionado, Samuel fala no lugar de Deus: “Obedecer é melhor do que o sacrificar”. E como resultado da “rejeição” de Deus por Saul, Deus rejeitou Saul — seu reino seria tomado e dado a outro.
Mas observe as palavras de Samuel — Obedecer é melhor do que o sacrificar”. Sem dúvida, em certo nível, e pensando nisso à luz da revelação mais completa do Novo Testamento, percebemos que se não há sacrifício para o pecado, não temos nada em absoluto. Nesse sentido, não existe nada mais importante que o sacrifício.
Mas não é isso o que Samuel tinha em mente. Saul tinha oferecido sacrifício ao Senhor — e isso é algo bom! Mas nessa ocasião Deus rejeitou o sacrifício. A adoração de Saul era inaceitável. Por quê? Porque a desobediência de Saul ao mandamento de Deus mostrou que sua “adoração” era uma farsa. Deus não aceitará a adoração do desobediente.
Dois pontos principais de aplicação emergem a partir disso.
Primeiro, Deus espera que o obedeçamos, e nos considera responsáveis aqui. Deus não oferece sugestões. Ele dá mandamentos. E nós, suas criaturas, somos obrigados a obedecê-lo. Não devemos selecionar e escolher — devemos obedecer.
Segundo, não devemos fingir que adoramos a Deus, se não obedecemos aos seus mandamentos. Podemos ir com a maré — ir na igreja, dar o dízimo, cantar os hinos, orar — mas se formos desobedientes, nossa adoração não será aceitável.
Isso é fascinante e de significado imenso, e é um corretivo muito necessário para o nosso pensamento natural. Quando pecamos — desobedecemos à Palavra de Deus — nossa tendência, em vez de se arrepender, é justificar esse pecado envolvendo-nos ainda mais fortemente na adoração. Asseguramo-nos de ir à igreja. Cantamos os hinos de coração. Damos dinheiro extra na hora das ofertas. E, talvez inconscientemente, queremos pensar que tudo isso compensa o pecado, que de alguma forma nossa boa adoração compensará a nossa desobediência. Mas podemos estar certos que Deus não é tão facilmente enganado. Nem ele é tão facilmente subornado.
Mais tarde na história de Israel o profeta Isaías condenou a nação por sua adoração. Ele condenou seus sacrifícios e ofertas — tudo o que Deus ordenou. Mas era tudo uma farsa, um ritual vazio e insincero, pois eram um povo desobediente. (Leia Isaias 58).
No Novo Testamento o apóstolo faz o mesmo. Ele diz aos coríntios que a sua observância da Ceia do Senhor tinha trazido sobre eles o desprazer e a disciplina de Deus. A forma como eles estavam tratando uns aos outros na congregação era pecadora, e assim, a adoração deles era indigna de Deus. Aqui novamente a adoração é de acordo com o mandamento de Deus, mas foi rejeitada por causa de desobediência. (Leia 1Co 11.17-22).
Tudo isso para dizer que Deus espera sinceridade na adoração. Não ousemos brincar com ele. Não podemos selecionar e escolher quais leis obedeceremos. E tendo desobedecido a Deus, não finjamos adorá-lo. Deus exige sinceridade na adoração.
1- Qual a importância da obediência a Deus?
A obediência é um dos assuntos mais importantes na Bíblia. Obedecer a Deus implica colocar nossa fé nele. Jesus nos chama para uma vida de obediência como Ele mesmo foi obediente ao Pai (Filipenses 2:8).
Obediência é abrir mão da nossa vontade pessoal para a vontade do Pai em nossa vida. Para que isso aconteça, é necessário conhecer ao Senhor e confiar que o que Ele faz é sempre o melhor para nós. Isso é chave para nosso crescimento e amadurecimento espiritual (Salmos 37:5).
2- Benefícios da obediência
Em primeiro lugar, a base para obediência deve ser o amor ao Senhor e o que Ele fez por nós, pois nos amou primeiro, sendo ainda nós pecadores (1 João 4:19; Romanos 5:8). No entanto, a obediência traz consequências práticas para aqueles que obedecem. Vida longa, ser bem sucedido são algumas delas.
Veja abaixo mais algumas:
Somos abençoados por causa da obediência de Abraão (Gênesis 22:18).
A obediência traz bênçãos para nossa vida (Deuteronômio 11:13-14).
Tem uma promessa para quem obedece a Deus (Isaías 1:19).
A obediência a Deus nos deixa prudentes e fortes (Mateus 7:24).
A obediência a Deus deixa legado (Romanos 16:19).
A obediência a Deus nos torna diferentes no agir e ser (Filipenses 2:12-15).
3- Consequências da obediência a Deus
Temos a história de Adão e Eva que nos mostra sobre a desobediência a Deus (Gênesis 3:1-3). Percebemos que desobedecer não agrada a Deus e é algo muito sério. Eles ouviram a voz da serpente que os enganou (Gênesis 3:5). Aqui vemos a primeira consequência da desobediência a Deus: perda da intimidade com Deus, vergonha, medo.
Veja aqui mais alguns exemplos para refletirmos:
A não obediência trouxe destruição a Israel (Deuteronômio 8:20).
Deus rejeitou a Saul depois de desobedecer (1 Samuel 16:14).
O profeta que não obedeceu foi ferido por um leão (1 Reis 20:36).
O preço da desobediência (Jonas 1:3-4).
Haverá castigo por não obedecer ao evangelho (2 Tessalonicenses 1:8).
Recomendação de Paulo quanto aos que não obedecem (2 Tessalonicenses 3:14).
4- Exemplos bíblicos de obediência
Noé: “Noé fez tudo exatamente como Deus lhe tinha ordenado” (Gênesis 6:22).
Abraão: “esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Sua descendência conquistará as cidades dos que lhe forem inimigos e, por meio dela, todos povos da terra serão abençoados, porque você me obedeceu” (Gênesis 22:17-18).
Josué: “Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles” (Números 14:9).
Davi: “Pois Davi fizera o que o Senhor aprova e não deixara de obedecer a nenhum dos mandamentos do Senhor durante todos os dias da sua vida, exceto no caso de Urias, o hitita” (1 Reis 15:5).
Ezequias: “Ele se apegou ao Senhor e não deixou de segui-lo; obedeceu aos mandamentos que o Senhor tinha dado a Moisés” (2 Reis 18:6).
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego: “Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam ao rei: "Ó Nabucodonosor, não precisamos defender-nos diante de ti. Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das suas mãos, ó rei” (Daniel 3:16-17).
Maria: “Respondeu Maria: "Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (Lucas 1:38).
Pedro: “Pedro e os outros apóstolos responderam: É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (Atos dos Apóstolos 5:29).
Paulo: "Assim, rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial” (Atos dos Apóstolos 26:19).
Jesus: “E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8).
O que realmente agrada ao Senhor é nossa obediência. Obedecer Sua Palavra, obedecer Sua voz. Tudo isso nos faz ter um relacionamento íntimo com Ele!
Obedecer é a maior prova de amor que podemos dar ao Senhor: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” (João 14:21).
Obedecer a Deus é amá-lo e amá-lo é obedecer.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (Trad.). (2017). Nova Almeida Atualizada (Edição Revista e Atualizada®, 3a edição). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Nova Versão Internacional. (2001). São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional.
Respostas Bíblicas: perguntas e respostas à luz da Bíblia e da fé cristã evangélica.
http://monergismo.com/fred-zaspel/a-prioridade-da-obediencia/
Marvin R. Vincent, Word Studies in the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans
4- IGREJA, A FAMILIA DE DEUS
“Assim, vocês não são mais estrangeiros e peregrinos,
mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2.19)
1- Agora pertencemos à família de Deus
Como o desafio cristão é adequar-se, em santidade, para a habitação do Espírito Santo, todos os cristãos, judeus ou gentios, devem reconhecer a nova posição que têm Cristo. Paulo afirma que todos são concidadãos dos santos, porém, agora destaca que todos têm “endereço fixo” (v. 19), todos são pertencentes à família de Deus (v. 19), todos têm Jesus como a pedra angular e os apóstolos e profetas como fundamento (v. 20), todos crescem em dedicação ao Senhor (v. 21), e, todos são edificados para a tornarem-se o templo espiritual para a habitação do Espírito de Deus (v. 22).
Os cristãos gentios são agora, não apenas tolerados, mas são membros plenos da família de Deus. Com isso, não estamos mais sozinhos, não vivemos mais em meio à escuridão. Através de Jesus, na família de Deus, há um assento e um lugar para cada um e para todos os homens. Os homens podem criar barreiras, as igrejas podem fazer separações na mesa da comunhão, porém Deus nunca procede assim. Todos (os chamados), são igualmente seus filhos em plenitude, sem distinção (Gl 3.28; Cl 3.11). Wiersbe afirma: “a despeito de todas as distinções raciais, nacionais ou físicas que possuímos, somos todos irmãos e irmãs dentro dessa família”.
A família de Deus substituiu o povo de Deus. A Igreja substituiu Israel. Gentios e judeus formam uma só família e são cidadãos celestes, são colegas e têm comunhão entre si ou até são cidadãos celestes junto com os anjos, pois, posicionalmente, já morreram e estão ressuscitados em Cristo (conf. Cl 2.20; 3.1), e Cristo está na companhia dos anjos, nos lugares celestiais (conf. 2.6; 3.10). Que privilégio pertencer à família de Deus!
2- Em nossa declaração de Fé aprendemos que somos o novo povo de Deus.
Cremos que o povo da nova aliança de Deus já veio à Jerusalém celestial; já está assentado com Cristo nos lugares celestiais. Essa igreja universal se manifesta em igrejas locais das quais Cristo é a única cabeça; assim, cada “igreja local” é, de fato, a igreja, a casa de Deus, assembleia do Deus vivo e coluna e fundamento da verdade. A igreja é o corpo de Cristo, a menina dos seus olhos, está gravada em suas mãos e ele se comprometeu a ela para sempre. A igreja é distinguida por sua mensagem do evangelho, suas sagradas ordenanças, sua disciplina, sua grande missão e, acima de tudo, por seu amor a Deus e pelo amor de seus membros uns pelos outros e pelo mundo. De modo crucial, esse evangelho que amamos possui dimensões pessoais e também corporativas, sendo que nenhuma delas deve ser ignorada. Cristo Jesus é nossa paz: ele não somente trouxe paz com Deus, como também paz entre povos antes alienados. Seu propósito era criar em si uma nova humanidade, fazendo a paz, e reconciliar ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. A igreja serve de sinal do futuro novo mundo de Deus, quando seus membros vivem em serviço uns pelos outros e pelo próximo, em vez de viverem focados em si mesmo. A igreja é a habitação corporativa do Espírito de Deus e a testemunha contínua de Deus no mundo.
1Co 10.32; Atos 2.42-47; Atos 6.1-6; 1Pe 2.9-10
3- O que é a igreja?
A igreja é a comunidade de todos os verdadeiros cristãos em todos os tempos. Ou seja, a igreja é composta de todos os homens e mulheres que foram, são, ou sempre serão verdadeiros crentes em Jesus. Quando Paulo escreveu em Efésios 5:25 que “Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela”, estava se referindo a todas as pessoas pelas quais Cristo morreu para as redimir. Ele não quis dizer apenas aqueles que estavam vivos após a morte de Cristo, mas também aqueles que olharam para Deus para sua salvação antes de Jesus vir à Terra. Todos os verdadeiros cristãos, independentemente da época em que viveram, compõem a verdadeira igreja.
Jesus disse que ele edificaria sua igreja (Mateus 16:18), atraindo pessoas para si. Esse padrão de edificação da igreja é uma continuação do processo de sua construção antes de Jesus ter vindo à Terra, pois nos tempos do Antigo Testamento Deus estava continuamente atraindo seu povo para si, a fim de que o povo fosse uma assembleia de adoração a ele. Assim como toda a nação de Israel no Antigo Testamento devia reunir-se para adorar a Deus, os cristãos hoje são chamados a fazer o mesmo.
4- A Igreja Invisível, porém, visível
Como não podemos ver a condição espiritual do coração das pessoas, a verdadeira igreja em sua realidade espiritual como comunhão de todos os verdadeiros cristãos é invisível, ou seja, somente Deus pode sondar o coração das pessoas. Como Paulo diz em 2Timóteo 2:19, “o Senhor conhece quem lhe pertence”. Por conseguinte, a “igreja invisível” é a igreja como Deus a vê.
Mas a igreja também é visível. Enquanto a igreja invisível é aquela como Deus vê, a ‘igreja visível’ é a igreja como os cristãos a veem, portanto, a esta última conterá tanto cristãos verdadeiros como outros que não creem ou seguem as reivindicações de Jesus. Mas, ao fazer essa distinção, não devemos nos tornar excessivamente desconfiados quanto àqueles que parecem ser verdadeiros cristãos. Em vez disso, e de forma favorável, devemos considerar todos como membros da igreja universal que parecem ser cristãos de sua confissão de fé e padrão de vida.
5- Outras descrições da igreja
Em o Novo Testamento, a palavra “igreja” é usada para descrever diferentes tipos de grupos de cristãos: uma igreja em casas pequenas (Romanos 16:5; 1Coríntios 16:19), a igreja de uma cidade (1Coríntios 1:2; 2Coríntios 1:1; 1Tessalonicenses 1:1), a igreja de uma região (Atos 9:31) e a igreja mundial (Efésios 5:25; 1Coríntios 12:28). Desse modo, a comunidade do povo de Deus em qualquer nível é corretamente chamada de igreja.
Uma variedade de metáforas também é usada para descrever a igreja. Um grupo de metáforas afirma que a igreja é uma família e que seus membros se relacionam entre si como componentes de uma família maior. É por isso que Paulo escreve em 1Timóteo 5:1-2: “Não repreenda asperamente ao homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza”. A relação entre Cristo e a igreja também é vista em termos familiares, sendo Cristo o noivo e a igreja, sua noiva (Efésios 5:32; 2Coríntios 11:2).
Outra imagem comum da igreja é a de um corpo. Em 1Coríntios 12 Paulo se refere aos membros da igreja como membros de um corpo. Os membros têm sua própria função e responsabilidade especiais, assim como partes do corpo humano. Em Efésios 1:22-23; 4:15-16 e Colossenses 2:19, a igreja é referida como um corpo com Cristo como sua cabeça, mantendo o corpo unido e equipando cada parte para funcionar como deve.
Há muitas outras metáforas usadas para a igreja: um novo templo (1Pedro 2:4-8), um santo sacerdócio (1Pedro 2:5), ramos de uma videira (João 15:5), uma oliveira (Romanos 11:17-24) e um campo cultivável (1Coríntios 3:6-9). A ampla gama de metáforas usadas para a igreja deve nos lembrar de não nos concentrarmos demais numa delas, pois a ênfase imprópria dada a uma metáfora com exclusão de outras resultará numa visão desequilibrada da igreja. Em vez disso, devemos considerar cada metáfora como uma perspectiva diferente da igreja, algo que nos informe um pouco mais sobre a comunidade da qual Deus nos permitiu fazer parte.
6- O que faz da congregação uma igreja?
Se um grupo de pessoas se reúne para discutir coisas espirituais, isso faz delas uma igreja? E se elas fizerem isso em um edifício consagrado em oposição a uma cafeteria? E se, além da discussão, elas cantarem e orarem juntas? E se adicionarem a leitura da Bíblia ao tempo do grupo? Que atividades fazem de uma congregação uma igreja? Tradicionalmente, muitos escritores cristãos concordam que existem duas principais atividades (ou “marcas”) que toda igreja deve exibir para ser verdadeiramente considerada uma igreja. A primeira é a correta pregação bíblica, a qual tem menos a ver com a forma do sermão do que com o seu conteúdo. Se os sermões feitos numa igreja contiverem falsas doutrinas ou omitirem a verdadeira mensagem evangélica de salvação somente pela fé, então a igreja em que esses sermões são pregados não é uma igreja verdadeira.
A segunda marca da igreja verdadeira é a administração correta dos sacramentos (ou “ordenanças”), que são o batismo e a Ceia do Senhor. Uma vez que uma organização comece a praticar o batismo e a Ceia do Senhor de maneira bíblica, então essa organização está funcionando como uma igreja. A prática dos dois sacramentos é considerada uma marca da igreja verdadeira, porque os sacramentos podem servir como controle da membresia; isto é, o batismo é um meio de admitir indivíduos à igreja, e a participação na Ceia do Senhor é um modo de os membros continuarem mostrando sua boa reputação dentro do corpo congregacional. Portanto, historicamente, muitos escritores têm dito que apenas as igrejas que praticam adequadamente os sacramentos são consideradas verdadeiras.
Mas com muitas organizações paralelas hoje (isto é, ministérios especiais como agências missionárias, universidades e faculdades cristãs), é oportuno adicionar outra “marca” de uma verdadeira igreja: Para ser uma igreja, uma organização deve tentar funcionar como uma igreja, em vez de incentivar seus membros a se tornarem parte de uma igreja local.
Entre as igrejas verdadeiras, podemos fazer duas outras distinções — conforme enfatizado em o Novo Testamento. Uma igreja pode ser mais ou menos pura ou mais ou menos unificada. A pureza da igreja é determinada pelo seu grau de libertação de doutrinas e condutas errôneas, e seu grau de conformidade com a vontade revelada de Deus para sua igreja. O objetivo de Cristo para a igreja é “santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Efésios 5:26-27). Assim, como membros da igreja, devemos buscar sua pureza em todas as áreas, segundo o melhor da nossa capacidade.
Além disso, também devemos buscar a unidade, isto é, o livramento de divisões entre os cristãos verdadeiros segundo nosso melhor esforço. Quando fazemos isso, estamos nos harmonizando com a oração de Jesus em João 17:21 em prol dos futuros cristãos “para que todos sejam um”. Isso não significa que precisa haver um governo mundial da igreja sobre todos os cristãos, porque a unidade pode se manifestar de outras maneiras. No entanto, isso significa que toda igreja verdadeira deveria tentar cooperar com outras igrejas e se afiliar àquelas que são verdadeiras e a grupos de cristãos, de várias formas apropriadas de tempos em tempos. Igrejas que tendem a estar constantemente em desacordo com a maioria das outras igrejas deve considerar com oração o quão bem elas estão trabalhando para alcançar o objetivo de Cristo de unidade entre os cristãos.
7- O que a igreja deve fazer?
A igreja deve ministrar a Deus, a seus membros e ao mundo. O ministério para Deus é realizado por meio da adoração a ele. Em Colossenses 3:16, Paulo anima a igreja a cantar “salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações”. O culto prestado a Deus na igreja não é apenas uma preparação para algo mais; é o próprio o cumprimento do propósito principal da igreja, cujos membros foram criados para viver em função do louvor da glória de Deus (Efésios 1:12).
O ministério da igreja a seus membros é feito por intermédio da educação e edificação para que todos possam apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (Colossenses 1:28). Como Paulo disse em Efésios 4:12-13, os líderes capacitados da igreja foram habilitados visando preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo”.
O ministério da igreja para o mundo é feito por meio da pregação do evangelho em palavras e ações a todas as pessoas. Em Mateus 28:19, Jesus ordena que seus discípulos “façam discípulos de todas as nações”. Em Atos 1:8, foi dito aos discípulos que espalhassem a mensagem do evangelho “até aos confins da Terra”. E o padrão de pregação na Escritura é claro: a mensagem deve ser ministrada tanto em palavras (por meio da evangelização) como em ação (mediante os ministérios de misericórdia). Cada igreja deve estar envolvida em vários tipos de ministérios de palavra e ação, incluindo não só evangelização, mas também ministério aos pobres e oprimidos (Gálatas 2:10; Tiago 1:27). E, embora pareça prioritário cuidar das necessidades físicas de outros cristãos (Atos 11:29; 2Coríntios 8:4; 1João 3:17), todos os membros da igreja, quando têm oportunidade, devem fazer “o bem a todos” (Gálatas 6:10).
Cada igreja deve tentar cumprir os três propósitos para os quais Deus a criou (adoração, educação, e evangelização e misericórdia). Um propósito não é mais importante do que o outro, e nenhuma igreja deveria dar prioridade a um propósito em detrimento de outros.
Em vez disso, com plena confiança na promessa de Cristo de que ele vai edificar sua igreja (Mateus 16:18), esta deve buscar de todo o coração prestar culto a Deus, desenvolver seus membros até a maturidade e pregar as boas-novas ao mundo mediante palavra e ação.
8- O poder da igreja para cumprir sua missão
Quando Cristo prometeu edificar sua igreja, deu a seus discípulos a autoridade de fazê-lo, e, quando os deixou, enviou-lhes o Espírito Santo para capacitá-los a essa obra (João 14:26; Atos 1:8). O Espírito Santo habilitou os seguidores de Jesus com dons (dons espirituais) necessários para desenvolver o ministério da igreja; o Espírito Santo nos capacita hoje para usar esses dons e dar continuidade ao ministério da igreja.
Dons espirituais incluem tanto os dons relacionados a habilidades naturais (ensino, exercício da misericórdia e administração) como aqueles que parecem ser mais milagrosos (profecia, cura, discernimento de espíritos). A despeito de alguns fazerem distinção entre os dons naturais e os sobrenaturais, quando Paulo dá uma lista dos dons espirituais ele não parece fazer tal distinção (Romanos 12:6-8; 1Coríntios 7:7; 12:8-10,28; Efésios 4:11). Também não se pode dizer que alguns dos dons sobrenaturais só foram dados aos apóstolos como sinais e validação de seu ministério, pois esses foram amplamente distribuídos entre os cristãos em as várias igrejas contemporâneas de Paulo.
Entretanto, o apóstolo diz em 1Coríntios 13:12 que os dons milagrosos vão passar (observe o versículo 10), quando virmos Cristo “face a face” e quando o “conhecermos plenamente”. No retorno de Cristo, os dons espirituais findarão, pois não mais haverá mais necessidade deles (1Coríntios 13:8).
Todos os dons espirituais, escreve Paulo em 1Coríntios 12:11, são “realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, conforme quer” por um e o mesmo Espírito, que compartilha cada um individualmente como ele quiser. “Esses dons são concedidos “para o bem comum” (1Coríntios 12:7) e para uso na “edificação da igreja” (1Coríntios 14:26). Os dons espirituais não somente capacitam a igreja” para o seu ministério, mas também para dar ao mundo uma antecipação da era por vir.
Quando Cristo retornar, seu domínio e reinado sobre toda a Terra será plenamente conhecido e vivenciado, não apenas numa vida sem pecado (1João 3:2), mas também nos corpos glorificados dos cristãos (1Coríntios 15:53). Como a igreja, mediante o poder do Espírito, faz da futura promessa uma realidade presente (por exemplo, por meio da conversão de um incrédulo ou a cura de doenças), ela está concedendo a todos uma degustação do que está por vir e cumprindo sua missão ordenada por Cristo e para a qual está habilitada a realizar.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (Trad.). (2017). Nova Almeida Atualizada (Edição Revista e Atualizada®, 3a edição). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Nova Versão Internacional. (2001). São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional.
Neves, I. (2015). Comentário Bíblico de Efésios: Através da Bíblia. (I. Mazzacorati, Org.) (Primeira edição, p. 77). São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial.
Grudem, Wayne Bases da fé cristã : 20 fundamentos que todo cristão precisa entender / Wayne Grudem ; organização Elliot Grudem. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Thomas Nelson Brasil, 2018.
5- CHEIOS DO ESPÍRITO SANTOS
Efésios 5.18 (NAA)
“E não se embriaguem com vinho, pois isso leva à devassidão, mas deixem-se encher do Espírito,”
1- A DOUTRINA DA TRINDADE
A doutrina da Trindade emergiu porque foi a melhor explicação de todo o escopo do testemunho bíblico à identidade de Deus. A Bíblia claramente ensina que existe somente um Deus (Dt. 6:4; Is. 42:8; Tg. 2:19). A Bíblia também ensina claramente que o Pai é Deus, que o Filho é Deus, e que o Espírito é Deus. Cada um deles faz coisas que somente Deus pode fazer, e recebe a adoração devida somente a Deus. Essas pessoas não são partes separadas de Deus, nem são apenas máscaras diferentes que ele usa de acordo com momentos ou funções específicas. Alguns teólogos têm distinguido essas pessoas como o Criador (o Pai), o Redentor (o Filho) e o Santificador (o Espírito Santo), e há um sentido em que essas distinções podem ser úteis - mas, na verdade, cada um desses títulos e atividades pode ser aplicado igualmente a todas as três pessoas como Deus.
A Bíblia também ensina claramente que o Pai, o Filho e o Espírito não são idênticos um com os outros ou meramente diferentes máscaras que Deus usa de acordo com momentos ou funções específicas. O Pai, o Filho e o Espírito são “pessoas” que interagem umas com as outras e conosco de maneiras distintas. Porque cada pessoa da Trindade é totalmente Deus, eles compartilham o mesmo propósito e atividade, mas as maneiras que eles pensam e agem são distintas para cada um. Jesus disse a seus discípulos que ele era o único Filho de Deus e que era enviado do Pai para realizar sua missão compartilhada de salvação. Ele também prometeu que depois de sua partida ele enviaria aos seus discípulos o Espírito Santo que viveria neles, e que quando o Espírito viesse, o Pai e o Filho viriam com ele.
A doutrina da Trindade emergiu também porque explica a experiência com Deus do cristão. Cremos que o Pai enviou seu Filho e o Espírito para nos levar à salvação. Acreditamos que o Filho, e não o Pai ou o Espírito Santo, tornou-se homem, sofreu, morreu e ressuscitou para a nossa salvação, embora não separados da obra salvadora do Pai e do Espírito. Acreditamos que o Espírito Santo habita em nossos corações pela fé, mas o Pai e o Filho participam dessa presença de sua próprias maneiras distintas. Em nossas orações costumamos orar ao Pai, mas o fazemos através do Filho e no Espírito Santo, para que a nossa adoração seja dirigida a todas as três pessoas e não a uma somente.
2- O ESPÍRITO SANTO: PERSONALIDADE E DIVINDADE
Leiamos João 16: 8–13
Jesus entristece os discípulos quando diz que vai partir e voltar para o Pai, mas explica que sua partida é boa para eles, pois significa que o Espírito virá. O Espírito tomará o lugar de Jesus e realizará muitos de seus ministérios. Jesus convenceu o mundo do pecado (7: 7) e, quando ele partir, o Espírito “convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (16: 8). Trazer convicção é o trabalho de uma pessoa, não uma mera força, e esta passagem, portanto, testifica da personalidade do Espírito. Também dá testemunho de sua divindade, ensinando que o Espírito realiza a obra de Deus de convencer os pecadores de sua necessidade de salvação (vv. 8-11).
Jesus fornece mais evidências de que o Espírito é uma pessoa divina quando diz que o “Espírito da verdade” irá “guiar” os discípulos “em toda a verdade” e falar o que Jesus lhe dá, mesmo as coisas que ainda estão por vir (vv. 12-14 ) O Espírito tem acesso às coisas de Deus e as comunicará aos discípulos - traços característicos das pessoas, não forças.
Nos últimos dois séculos, três áreas da teologia sistemática estiveram (e ainda estão) no centro do debate: as doutrinas das Escrituras, da escatologia e do Espírito Santo. No que se refere à obra do Espírito Santo, o último século viu o surgimento de uma série de novos movimentos de renovação da igreja. E especialmente nos últimos vinte ou trinta anos muitos grupos surgiram, alegando que eram fruto de uma ação do Espírito Santo. Por outro lado, deve-se enfatizar que toda a vida cristã é vida no Espírito Santo, na medida em que “a dádiva do Espírito para o tempo presente dos fiéis pode significar antecipação e penhor de sua salvação futura apenas porque o Espírito também é a força de Deus que gera a própria salvação vindoura.”1 Isso deveria ser óbvio para cristãos, mas nem sempre é. Dentre as noções mais comuns que as pessoas têm hoje sobre o Espírito Santo, verificamos a concepção de que ele só atua na história em momentos extraordinários ou a ideia de que a relação com a obra do Espírito Santo é meramente cognitiva. Em outras palavras, sabe-se que a vida cristã é vida no Espírito, mas há pouca ou nenhuma experiência do que vem a ser a obra do Espírito Santo na vida cristã.
3- Posto isso, podemos resumir o ensino bíblico sobre o Espírito Santo com as seguintes considerações:
3.1- Em primeiro lugar, as Escrituras nos apresentam o Espírito como um ser pessoal (Jo 16.14), chamado de Consolador (Jo 14.26; 15.26; 16.7). Além disso, as Escrituras conferem ao Espírito Santo atributos pessoais, tais como inteligência (Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16), vontade (At 16.7; 1Co 12.11) e sentimentos (Is 63.10; Ef 4.30), assim como atos próprios de uma pessoa, como falar, testificar, ordenar, revelar, lutar, criar, interceder, vivificar os mortos e ter ciúme: “É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós” (Tg 4.5 [ara]). Tais atos e atributos não são próprios de um simples poder ou influência, mas de um ser pessoal. Inclusive, a Escritura distingue entre o Espírito e o seu poder (cf. Lc 1.35; 4.14; At 10.38; Rm 15.13; 1Co 2.4), além de mostrar o Espírito relacionando-se com outras pessoas, como os apóstolos, o Pai e o Filho, o que implica personalidade. Por isso, afirmamos que, de acordo com as Escrituras, o Espírito Santo é uma pessoa, da mesma forma que o Pai e o Filho, o único Deus.
3.2- Em segundo lugar, podemos ver a presença poderosa do Espírito em toda a vida de Jesus, desde o ventre materno até o túmulo, e depois até o trono na glória. Basílio observou que o Espírito Santo era o companheiro inseparável de Jesus Cristo: “toda atividade de Cristo se manifestava na presença do Espírito Santo.”2 Sua encarnação foi obra do Espírito Santo (Lc 1.35). A gravidez de Maria é um milagre da graça, operada pelo poder criador do Espírito Santo. O anúncio do ministério de Jesus destaca o lugar do Espírito Santo (Mc 1.8). Ele também estava presente desde o início do ministério de Cristo, no momento do seu batismo (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32; cf. At 10.38). Imediatamente após o batismo, Jesus ficou “cheio do Espírito Santo” (Lc 4.1). Por consequência, ele sofreu uma série de tentações no deserto (Mc 1.12). O restante do ministério de Jesus foi também conduzido no poder do Espírito Santo (Lc 4.14). Isso se evidencia de maneira inegável no ensino de Jesus, quando ele passou a ministrar nas sinagogas.
3.3- Em terceiro lugar, de acordo com a Escritura, o Espírito procede do Filho assim como do Pai. O Espírito é o Espírito de Cristo, no mesmo sentido que ele é o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos (Rm 8.9,11). Da mesma forma, ele é o Espírito do Filho (Gl 4.6; Fp 1.19). De acordo com isso, pode-se considerar que o Filho, igualmente com o Pai, envia o Espírito Santo (Jo 15.26; 16.17; cf. Mt 3.11 e At 2.33). Assim, o Espírito Santo não é gerado como o Filho, mas procede do Pai e do Filho, e esse é um dos elementos que o distingue das outras pessoas da Trindade. Em virtude de o Espírito proceder do Pai e do Filho, ele é descrito como uma pessoa que mantém com o Pai e com o Filho a mais estreita relação possível (cf. 1Co 2.10,11; 2Co 3.17). Por isso, escreveu Agostinho: “[O Espírito Santo é a] suma caridade, laço que une um ao outro [o Pai ao Filho], e nos submete a eles.”3 A obra para a qual o Espírito Santo foi enviado à igreja no dia de Pentecostes estava baseada em sua unidade com o Pai e com o Filho. O Espírito veio para assumir o lugar de Cristo e realizar sua obra na terra. Assim, do mesmo modo que essa obra de revelação estava firmada na unidade do Pai com o Filho, a obra do Espírito baseia-se em sua unidade com o Pai e com o Filho (Jo 16.14,15). Por isso, cada pessoa da Trindade busca a glória da outra, exaltando-a (Jo 14.26; 17.1-5).
4- Por fim, o Espírito Santo age na criação como o doador da vida (Gn 1.3; Jó 26.13; Sl 104.30). Foi o Espírito Santo quem inspirou a Escritura. Desse modo, trouxe aos homens a revelação especial de Deus (1Co 2.13; 2Pe 1.21). É o Espírito quem aplica os benefícios da salvação aos cristãos, justificando, regenerando e santificando o crente, e edificando a igreja. Esses temas serão desdobrados neste capítulo, mostrando que toda a vida cristã é vivida no Espírito e por meio dele. Ele é nosso Consolador, que intercede por nós com gemidos inexprimíveis e que nos assegura de que somos filhos de Deus. Ele é o penhor de nossa herança eterna, que nos preserva até o dia de nossa redenção, livrando-nos do erro e preparando-nos para o descanso eterno.
5- Alguns efeitos de ficar cheio do Espírito Santo podem ser:
Grande alegria – a alegria da salvação enche o coração – Atos dos Apóstolos 13:52
Coragem – perca da vergonha e do medo de fazer a obra de Deus – Atos dos Apóstolos 4:31
Fé mais forte – mais confiança em Deus – Atos dos Apóstolos 11:24
Capacitação – receber ajuda para crescer espiritualmente, ajudar a igreja ou evangelizar; também pode envolver receber algum dom espiritual ou alguma revelação – Atos dos Apóstolos 1:8.
Atenção! Nem todos que são cheios do Espírito Santo falam em línguas ou recebem algum dom “mais sobrenatural”. O Espírito distribui os dons como quer. No entanto, toda experiência de ser cheio do Espírito Santo é poderosa e importante. Uma pessoa pode ter várias experiências de ser cheia do Espírito Santo ao longo da vida.
6- Como ficar cheio do Espírito Santo?
Se você quer ficar cheio do Espírito Santo, peça a Deus! Ele quer lhe dar essa bênção (Lucas 11:13).
O primeiro passo para ser cheio do Espírito Santo é crer. A fé é muito importante na vida cristã. Você precisa acreditar que pode ser cheio do Espírito Santo! (E, antes disso, precisa crer que Jesus é seu salvador, que morreu por seus pecados.)
Além disso, você pode orar, pedindo a Deus para ser cheio do Espírito Santo. Deus ouve suas orações. A Bíblia também diz que algumas pessoas ficaram cheias do Espírito Santo quando os líderes da igreja impuseram as mãos sobre elas (Atos dos Apóstolos 19:6). Em todas essas coisas, há uma coisa em comum: a busca por mais de Deus.
Quando você dedica seu tempo, sua atenção e seu amor às coisas de Deus, Ele aprofunda o relacionamento com você. A dedicação a Deus resulta em experiências mais fortes e profundas com Deus. Não desanime! Continue buscando a Deus.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (Trad.). (2017). Nova Almeida Atualizada (Edição Revista e Atualizada®, 3a edição). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Nova Versão Internacional. (2001). São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional.
Ferreira, Franklin. Teologia Cristã: Uma introdução à sistematização das doutrinas . Vida Nova. Edição do Kindle.
Bray, G. (2018). A Trindade. In B. Ellis, M. Ward, & J. Parks (Orgs.), Sumário de Teologia Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press.
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6- COMO ORAR
A Oração do Pai Nosso foi dada à igreja em resposta ao pedido dos discípulos de que o Senhor os ensinasse a orar. No sublime exemplo da Oração do Pai Nosso, vemos as prioridades da oração. Podemos também detectar um padrão de oração, um movimento que começa com adoração e se dirige, finalmente, à petição e suplica.
O acróstico “A-Ç-Ã-O” pode ser útil como padrão para a oração. Cada letra do acróstico representa um elemento vital da oração eficaz:
Adoração
Confissão
Ação de graças
Oração
O acróstico completo sugere a dinâmica da oração. A oração é ação. Embora seja expressa num espírito de quietude serena, a oração é ação. Quando oramos, não somos observadores passivos ou neutros, espectadores distantes. Gastamos energia no exercício da oração.
A Bíblia nos diz que “muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5.16). Fervor caracterizou a agonia de Jesus no Getsêmani, onde seu suor caiu no chão como gotas de sangue. Fervor descreve a luta de Jacó com o anjo, durante a noite, em Peniel. A oração é um exercício de paixão e não de indiferença.
Jesus contou a parábola da viúva persistente que apresentou o seu caso a um juiz. O juiz, um inescrupuloso, sem temor a Deus e ao homem, ouviu os apelos da viúva. Ele não se comoveu por um ímpeto repentino de compaixão, mas, pelo contrário, ficou cansado dos apelos repetidos da viúva. Em síntese, a mulher se tornou uma peste, impelindo, por meio de sua importunação, o juiz a agir.
O principal ensino da parábola não é que Deus é indiferente às nossas necessidades e tem de ser importunado, se desejamos ser ouvidos. Não é uma questão de correspondência entre o juiz injusto e Deus, o juiz perfeitamente justo. É um contraste. Jesus usou frequentemente o tema “quanto mais” em suas palavras. Nesta, ele afirmou: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite?” (Lc 18.7). O ponto de comparação/contraste é este: se um juiz humano injusto ouve a petição de uma mulher insistente, quanto mais o nosso justo Juiz celestial ouvirá nossas petições?
A mulher persistente é comparada com os santos que clamam dia e noite. Como o rei Davi, cujo travesseiro era encharcado com suas lágrimas, os santos se achegam a Deus com emoção genuína e, até, lágrimas.
Fervor é um elemento apropriado da oração ativa. O entusiasmo não o é. Existe uma linha tênue entre ambos. Os dois contêm paixão. Ambos estão carregados de emoção. O fervor cruza o entusiasmo em dois pontos: o mental e o emocional. O fervor se torna entusiasmo quando a mente para de pensar, e as emoções saem de controle.
O entusiasmo, a imitação do fervor, é uma tentativa falsa de simular o fervor piedoso. Aqueles que manipulam deliberadamente as emoções das pessoas são advertidos aqui. Há algo santo, algo soberano no genuíno fervor espiritual que não pode ser produzido artificialmente. É fácil confundirmos fervor com entusiasmo, mas a confusão é mortal.
1- ADORAÇÃO
Como no modelo da Oração do Pai Nosso, a maneira mais apropriada de começarmos a orar é com adoração. Infelizmente, somos mais frequentemente impelidos a orar por nossos desejos e necessidades. Buscamos a Deus quando queremos algo dele. Estamos com tal pressa para apresentar-lhe nossos pedidos e contar-lhe nossas necessidades (que Deus já conhece), que omitimos por completo a adoração ou passamos rapidamente por ela, de maneira negligente.
Omitir a adoração significa excluir o âmago da oração. Uma coisa é ser fervoroso nas súplicas, especialmente quando se ora em uma trincheira; outra coisa é ser fervoroso em adoração. As orações dos grandes santos, as orações dos guerreiros da história da igreja, são marcadas por sua adoração fervorosa a Deus.
Deus não permita que menosprezemos o ensino de Cristo, mas tenho de confessar que fiquei, pelo menos, surpreso com a resposta de Jesus ao pedido dos discípulos sobre a oração. Quando eles disseram: “Ensina-nos a orar”, eu aguardaria uma resposta diferente dos lábios de Jesus, diferente da que ele deu na forma da Oração do Pai Nosso. Eu esperaria uma resposta mais ou menos assim: “Vocês querem aprender a orar? Leiam os Salmos”.
Nossa hesitação e fraqueza, em expressar adoração, pode ter duas causas principais. A primeira é nossa falta de vocabulário conveniente. Tendemos a ser indistintos no que concerne à adoração. Foi Edgar Allan Pole que disse que, para comunicar instrução, a prosa é um instrumento mais apropriado do que a poesia. Não é surpreendente que os salmos tenham sido escritos em forma poética. Neles, os mais elevados ápices de expressão verbal são atingidos no serviço do louvor da alma a Deus.
Por que devemos adorar a Deus? Como seres humanos, fazer isso é nosso dever. Fomos chamados a encher a terra com a glória de Deus. Fomos criados à imagem de Deus para refletirmos a sua glória. Nossa principal função é exaltar o Senhor. De modo semelhante, devemos adorar a Deus, mas não bajulá-lo, como que “preparando-o” para as nossas súplicas. Notamos que os anjos, no céu, são descritos como que cercando o trono de Deus com louvor e adoração.
Em termos práticos, por que adoração é tão importante para nós? Por que toda a vida do cristão – que deve ser uma vida de obediência e serviço – é motivada e enriquecida quando a santidade e a dignidade de Deus são gravadas em nossa mente. Antes que eu seja motivado a fazer algo difícil para alguém, preciso ter certa quantidade de respeito por aquela pessoa. Quando alguém me pede que vá ao mundo e suporte perseguição e hostilidade da parte de pessoas contrárias e iradas, tenho de respeitar profundamente aquele que me pediu isso. Quando agimos assim, a tarefa se torna mais fácil.
Quando começamos nossas orações com adoração, estamos estabelecendo o tom para nos achegarmos a Deus com confissão, ação de graças e súplicas. Hebreus 4.16 nos diz que devemos entrar no Santo dos Santos confiantemente, pois o véu foi removido pela cruz. A espada que o anjo segurava à porta do Paraíso foi removida. Cristo nos deu acesso ao Pai. Mas, se examinarmos a história da igreja, pessoas têm mantido uma distância respeitável, pensando que Deus permanece indiferente a elas. A oração se tornou tão formal, que a igreja e suas pessoas reagiram com igual intensidade na direção oposta.
Deus nos convida a chegarmos livremente à sua presença, mas temos de compreender que estamos diante de Deus. Quando confrontados com o Senhor Deus onipotente, quem falaria como se estivesse falando com um amigo em um jogo de baseball? Podemos nos achegar a Deus com confiança, mas nunca com arrogância, nunca com presunção, nunca com frivolidade, como se estivéssemos lidando com um colega.
Quando começamos nossa oração com adoração e louvor, reconhecemos aquele com quem estamos falando. A gramática não precisa ser perfeita, nem as palavras requintadas e eloquentes, mas elas têm de refletir o respeito e a honra devidos a Deus. Há um sentido em que a adoração nos introduz no modo pelo qual confessamos nossos pecados, expressamos nossos agradecimentos e fazemos nossas súplicas.
Vários livros recentes querem que creiamos que tudo que devemos fazer é seguir certos passos, e Deus nos dará o que quer que peçamos. Os autores dizem, em essência: “Siga este procedimento ou use estas palavras específicas e tenha certeza de que Deus cederá aos seus pedidos”. Isso não é oração, é mágica. São artifícios tencionados a manipular o Deus soberano. Mas quem ora desta maneira esquece aquele com quem ele está falando. O Deus soberano não pode ser manipulado, porque conhece os corações de todos que oram a ele. A verdadeira oração pressupõe uma atitude de submissão humilde e adoração ao Deus todo-poderoso.
2- CONFISSÃO
Depois de expressarmos adoração, temos de achegar-nos a Deus com corações de confissão. Não temos qualquer direito de estar diante dele, exceto com base na obra consumada de Cristo. Não podemos fazer qualquer reivindicação, em e de nós mesmos, aos ouvidos de Deus. Não temos nenhum direito intrínseco de estar em sua presença. As Escrituras nos dizem que Deus é muito santo até para olhar para o pecado. Deus se deleita nas orações dos justos, mas não somos muito justos em nossa vida diária. No entanto, o Deus a quem servimos nos convida a entrar em sua presença, apesar do nosso pecado.
O apóstolo João nos diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Aqui, temos a promessa de Deus de perdoar nossos pecados confessados. Ignorar ou negligenciar esta promessa é seguir um caminho perigoso. Deus nos ordena a confessar nossos pecados e promete perdoá-los. O fato de que devemos confessar nossos pecados diariamente é claro. O que a confissão significa e o que ela envolve são questões que precisam de algum desenvolvimento.
Podemos distinguir entre dois tipos de arrependimento: atrição e contrição. Atrição é o arrependimento falsificado, que nunca nos qualifica para o perdão. É como o arrependimento de uma criança que é apanhada no ato de desobedecer a sua mãe e clama: “Mamãe, mamãe, sinto muito; por favor, não bata em mim”. Atrição é o arrependimento motivado estritamente pelo temor de punição. O pecador confessa o seu pecado a Deus, não impelido por tristeza genuína, e sim por um desejo de garantir um livramento do inferno.
O verdadeiro arrependimento reflete contrição, uma tristeza piedosa por ofender a Deus. Aqui, o pecador lamenta o seu pecado, não pela perda de recompensa ou ameaça de julgamento, mas porque ele trouxe injúria à honra de Deus.
A confissão é como uma declaração de falência. Deus exige perfeição. O menor pecado mancha um registro perfeito. Todas as “boas obras” no mundo não podem apagar a mancha e mover-nos da imperfeição para a perfeição. Quando cometemos o pecado, estamos moralmente falidos. Nossa única esperança é ter esse pecado perdoado e coberto por meio da expiação dAquele é totalmente perfeito.
Quando pecamos, nossa única opção é o arrependimento. Sem arrependimento não há perdão. Temos de chegar diante de Deus em contrição. Davi o expressou desta maneira: “Não te comprazes em sacrifícios… Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.16–17).
Aqui, os pensamentos profundos de Davi revelam seu entendimento do que muitas pessoas do Antigo Testamento não compreenderam – a oferta de sacrifícios no templo não obtinha mérito para o pecador. Os sacrifícios apontavam para além deles mesmos, para o Sacrifício perfeito. A expiação perfeita foi oferecida pelo Cordeiro perfeito e sem mancha. O sangue de touros e de bodes não remove o pecado. O sangue de Jesus o remove. Para nos aproveitarmos da expiação de Cristo e obtermos essa cobertura, precisamos achegar-nos a Deus com quebrantamento e contrição. Os verdadeiros sacrifícios para Deus são um coração quebrantado e um espírito contrito.
Havia um importante elemento de surpresa na experiência de perdão de Davi. Ele havia rogado a Deus que purificasse o seu pecado e o tornasse limpo. Em certo sentido, o perdão nunca deve ser uma surpresa. Nunca devemos ficar surpresos quando Deus cumpre sua palavra de perdoar aqueles que confessam seus pecados. Deus cumpre suas promessas; o homem não. Deus é o Elaborador da Aliança; nós somos os transgressores da aliança.
Considerando a questão à luz de outra perspectiva, devemos ficar surpresos toda vez que experimentamos o perdão. Nunca devemos ver a misericórdia e o perdão de Deus como naturais, embora vivamos numa cultura que faz isso. É assustador considerar a facilidade com que vemos a graça de Deus como algo natural. Ocasionalmente, faço estas perguntas a universitários, seminaristas e professores de seminário: Deus está obrigado a ser amoroso? Ele está obrigado a mostrar perdão e graça? Repetidas vezes, a resposta deles é afirmativa: “Sim, é claro; a natureza de Deus é ser amoroso. Ele é essencialmente um Deus de amor. Se ele não mostrasse amor, não seria Deus. Se Deus é Deus, ele tem de ser misericordioso!”
Ele tem de ser misericordioso? Se Deus tem de ser misericordioso, então sua misericórdia não é mais espontânea ou voluntária. Ela se torna obrigatória. Se isso é verdade, ela não é mais misericórdia, e sim justiça. Ninguém pode exigir que Deus seja misericordioso. Quando pensamos que ele está obrigado a ser misericordioso, uma luz vermelha deveria brilhar em nosso cérebro, indicando que não estamos mais pensando em misericórdia, e sim em justiça. Precisamos fazer mais do que cantar “Graça Admirável” – precisamos ficar constantemente admirados com a graça.
3- AÇÃO DE GRAÇAS
Ação de graças tem de ser uma parte integral da oração. Deve estar ligada inseparavelmente às nossas petições de súplica. As Escrituras nos mandam que nos acheguemos a Deus e lhe apresentemos todas as nossas petições com ações de graças. Ação de graças é um reconhecimento de Deus e de seus benefícios. Em salmos 103.2, Davi afirma: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios”.
Ingratidão é um problema sério. As Escrituras nos falam muito sobre ela. O não ser grato é uma marca tanto dos pagãos como dos apóstatas.
Em Romanos 1.21, Paulo chama atenção a dois pecados elementares dos pagãos. Ele diz: “Tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”. Honra e ação de graças devem ser distinguidos, mas não separados. Deus é honrado por ação de graças e desonrado por sua ausência. Tudo que temos e tudo que somos devemos, em última análise, à benevolência de nosso Criador. Desprezá-lo por retermos a gratidão apropriada é exaltar a nós mesmos e aviltá-lo.
Os pagãos devem ser distinguidos dos apóstatas. Os pagãos nunca entraram na família da fé. São estranhos à comunidade da aliança. Idolatria e ingratidão os caracterizam. Os apóstatas são pessoas que se unem a uma igreja, se tornam membros da comunidade da aliança visível e, depois, repudiam a igreja, deixando-a em troca de uma vida de satisfação secular. Os apóstatas são pessoas “que esquecem”. Têm memória curta.
O encontro de Jesus com os dez leprosos ilustra a importância da ação de graças. Inúmeros sermões já foram pregados sobre a cura dos dez leprosos, focalizando a atenção no tema de gratidão. O principal argumento de muitos destes sermões é que Jesus curou dez leprosos, mas somente um deles ficou grato. A única resposta educada a esse tipo de pregação é chamá-la o que ela é – absurdo. É inconcebível que um leproso que suportou a terrível miséria que ele enfrentava todos os dias, no mundo antigo, não teria ficado grato por receber cura instantânea daquela doença terrível. Se tivesse sido um dos leprosos, até Adolf Hitler teria ficado grato.
A questão-chave da história não é gratidão, e sim ação de graças. Uma coisa é alguém se sentir grato; outra coisa é expressar isso. Os leprosos eram separados da família e dos amigos. Purificação instantânea implicava livramento do exílio. Podemos imaginá-los delirantemente felizes, apressando-se em ir ao lar, para abraçar a esposa, os filhos e anunciar sua cura. Quem não seria grato? Mas somente um deles adiou seu retorno ao lar e tomou tempo para dar graças. O relato em Lucas 17 diz: “Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era samaritano” (vv. 15–16).
Todas as nossas orações devem incluir ação de graças. Como o leproso, temos de parar, voltar e agradecer. Somos tão devedores a Deus que jamais poderemos esgotar nossas oportunidades para expressar gratidão.
Esquecer os benefícios de Deus é também a marca do cristão imaturo, aquele que vive por seus sentimentos. Ele é propenso a uma vida espiritual do tipo montanha-russa, movendo-se rapidamente de auges estáticos para depressivos. Nos momentos de auge, ele tem um sentimento exultante da presença de Deus, mas entra em desespero no momento em que sente uma ausência profunda desses sentimentos. Ele vive de bênção em bênção, sofrendo as angústias de uma memória curta. Vive sempre no presente, saboreando o “agora”, mas perdendo de vista o que Deus fez no passado. Sua obediência e culto são tão fortes quanto a intensidade de sua última recordação de bênção.
Se Deus jamais nos desse outro vislumbre de sua glória nesta vida, se ele jamais nos respondesse outro pedido, se ele jamais nos desse outro dom da abundância de sua graça, ainda assim estaríamos obrigados a gastar o resto de nossas vidas agradecendo-lhe pelo que já fez. Já temos sido abençoados com tanta suficiência que devemos ser movidos diariamente por ação de graças. No entanto, Deus continua a nos abençoar.
4- ORAÇÃO
Alguém disse: “Com tantas pessoas famintas, pode ser errado eu orar por um tapete para a minha sala de estar”. Todavia, o Deus que cuida de estômagos vazios do mundo é o mesmo Deus que se interessa por salas de estar vazias. O que é importante para nós talvez seja importante para nosso Pai. Se não temos certeza a respeito da conveniência de nosso pedido, devemos contar isso a Deus. Tiago 1.5 diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. A expressão grega traduzida por “nada impropera” significa, literalmente, “sem lançar de volta em sua face”. Não precisamos temer a reprovação de Deus, contanto que estejamos buscando sinceramente sua vontade em determinada situação.
Nada é grande demais ou pequeno demais diante de Deus em oração, desde que não seja algo que temos certeza de que é contrário a vontade expressa de Deus, manifestada com clareza em sua Palavra. Obviamente, seria muito inapropriado pedir a Deus que nos torne ladrões competentes. Não podemos tentar a Deus, como o fez o homem que revelou, durante uma entrevista em um programa nacional de televisão, que tinha feito um pacto com Deus. O homem declarou que tinha prometido a Deus que, se ele o abençoasse com dois bordéis, ele o serviria pelo resto de sua vida.
E se as nossas orações parecem não ser respondidas? Às vezes, nos sentimos como se faltasse às nossas orações o poder de ir além do teto. É como se as nossas petições caíssem em ouvidos surdos, e Deus permanecesse quieto e desinteressado por nosso apelo fervoroso. Por que estes sentimentos nos assombram?
Há várias razões por que ficamos às vezes frustrados em oração. Veremos as mais importantes:
1. Oramos por generalidades vagas. Quando todas as nossas orações são vagas ou universais em escopo, é difícil experimentarmos a alegria que acompanha as respostas claras e óbvias de oração. Se pedirmos a Deus que “abençoe todas as pessoas do mundo” ou “perdoe todas as pessoas de nossa cidade”, dificilmente veremos a resposta da oração de maneira concreta. Ter um escopo de interesse amplo em nossa oração não é errado, mas, se toda oração for geral, nenhuma oração terá aplicação concreta e específica.
2. Estamos em guerra com Deus. Se não estamos em harmonia com Deus ou estamos em rebelião para com ele, não podemos esperar que ele tenha um ouvido benevolente para com nossas orações. Seus ouvidos se inclinam para aqueles que o amam e buscam obedecer-lhe. Ele afasta os seus ouvidos dos ímpios. Portanto, uma atitude de reverência para com Deus é vital à eficácia de nossas orações.
3. Tendemos a ser impacientes. Quando eu oro por paciência, tendo a pedir que me seja dada “agora mesmo”. É comum esperarmos anos, realmente décadas, para que nossos pedidos mais sinceros sejam respondidos. Deus raramente está com pressa. Por outro lado, nossa fidelidade a Deus tende a depender de atos “imediatos e amáveis” da parte dele. Se ele demora, nossa impaciência dá lugar à frustração. Precisamos aprender a ter paciência, pedindo a Deus sua paz.
4. Temos memória curta. É fácil esquecermos os benefícios e os dons dados pelas mãos de Deus. O crente lembra os dons de Deus e não exige um novo dom a cada hora, para manter a sua fé intacta.
Embora Deus nos acumule de graça sobre graça, devemos ser capazes de regozijar-nos com os benefícios de Deus, ainda que não recebamos nenhum outro benefício da parte dele. Lembre-se dos benefícios do Senhor quando estiver diante dele. Ele não lhe dará uma pedra, quando você lhe pedir pão.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (Trad.). (2017). Nova Almeida Atualizada (Edição Revista e Atualizada®, 3a edição). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Nova Versão Internacional. (2001). São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional.
Sproul, R. C. (2012). A Oração Muda as Coisas? -Editora FIEL.
A vida abundante. 18 lições para novos convertidos . - Edições Vida Nova.
7- COMO ESTUDAR A BÍBLIA
Não sei se você alguma vez já refletiu sobre a magnificência da Bíblia e sobre o privilégio que temos de estudá-la, mas espero que, por causa deste estudo, você seja capaz de focar em algumas das coisas incríveis que o esperam ao abrir as Escrituras. Nesta aula, veremos quatro fundamentos para entender de modo autêntico a Palavra de Deus para o seu dia a dia.
1- Fundamento número 1: leia a Bíblia
O estudo da Bíblia começa com a leitura dela. Mas sejamos sinceros: muitas pessoas não chegam a esse ponto. Passam o olho nela, mas nunca chegam a lê-la. Leem muitos livros sobre ela, mas nunca leem a Bíblia em si. Nada substitui a leitura da Bíblia. Precisamos estar totalmente dedicados à leitura da Bíblia, pois é aí que tudo começa. Minha sugestão é que você tente ler toda a Bíblia uma vez por ano. Primeiro, porém, vejamos como devemos lê-la.
1.1- O Antigo Testamento
Acredito que o cristão deveria ler todo o Antigo Testamento uma vez por ano. O Antigo Testamento tem 39 livros, e se você investir mais ou menos 20 minutos por dia, deveria ser capaz de lê-lo em um ano.
Eu sugeriria também que, enquanto lê, anote nas margens aquilo que não entende. Se fizer isso, fará uma descoberta interessante. Com o decorrer do tempo, você começará a apagar essas anotações, pois, à medida que ler e reler o Antigo Testamento desde Gênesis até Malaquias, adquirirá um entendimento que responderá a algumas das perguntas que tinha. Aquelas perguntas que restarem podem ser estudadas com a ajuda de um comentário ou outro recurso para encontrar seu sentido. Mas comece simplesmente com a leitura. Não se deixe desanimar e pensar: “Jamais entenderei o sentido deste versículo.” Comece simplesmente a ler o Antigo Testamento uma vez por ano.
1.2- O Novo Testamento
Meu plano para ler o Novo Testamento é um pouco diferente. E, falando nisso, creio que nosso maior foco deveria ser a leitura do Novo Testamento. Creio que isso seja bíblico.
Em Colossenses 1:25-26, Paulo diz: “Dela me tornei ministro de acordo com a responsabilidade por Deus a mim atribuída de apresentar-lhes plenamente a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto durante épocas e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos.” Paulo disse: “Fui chamado por Deus para dar-lhe o mistério que tem estado oculto.” Em essência, o mistério é a revelação do Novo Testamento. Paulo disse também que ele era um apóstolo do “mistério” em Efésios 3:3-5. Por isso, o foco principal de seu ministério era a nova revelação. Ele citaria o Antigo Testamento à medida que este ilustrava, elucidava e apoiava o Novo Testamento.
A mensagem do Novo Testamento é o ápice da revelação. É aquilo que representa e inclui tudo que já estava no Antigo Testamento. De certa forma, o Novo Testamento resume para você o conteúdo do Antigo Testamento e o leva para a plenitude da revelação. Por isso, quando você lê o Novo Testamento, pode gastar mais tempo com ele, porque ele explica o Antigo Testamento. Além disso, foi escrito em grego, que é uma língua mais complexa e talvez mais difícil do que o hebraico, porque usa mais abstrações e conceitos no lugar de histórias narrativas. Por essa razão, precisamos de uma diligência maior no estudo do Novo Testamento.
Isaías disse que você aprende linha por linha, preceito por preceito, aqui um pouco e ali um pouco mais (Isaías 28:10, 13). Quando você estuda para uma prova, não pega seu livro, lê suas anotações uma vez e diz: “Entendi!” (a menos que você não seja normal). Você aprende por meio da repetição. É da mesma forma que aprendemos a Bíblia. Leia dessa forma: livro curto, livro longo, livro pequeno, livro grande. “Mas assim levarei muito tempo!” Não, em mais ou menos dois anos e meio você terá lido todo o Novo Testamento. Você lerá a Bíblia de um jeito ou de outro, portanto, por que não lê-la de modo que se lembre dela? Algumas pessoas podem dizer: “Bem, tenho meu tempo devocional e leio a passagem do dia.” Tudo bem. Mas se eu lhe perguntasse: “O que você leu?”, talvez você diga: “Bem, deixe-me pensar.” E se eu lhe perguntasse: “O que você leu três dias atrás?” Receber uma resposta pode ser algo impossível. É muito difícil lembrar-se de algo quando avançamos rapidamente. Você precisa ler, reler e reler. Se você acredita que a Bíblia é a Palavra viva, ela se tornará viva em sua vida quando passar a lê-la repetidamente. Muitas pessoas me perguntam se eu acho que elas devem ler sempre a mesma tradução da Bíblia. Minha resposta costuma ser sim. Seja fiel à sua versão, porque só isso gera familiaridade. De vez em quando, faz bem ler uma passagem em outra versão para se aprofundar ainda mais nela.
A leitura da Bíblia responde a essa pergunta: O que a Bíblia diz? Precisamos lê-la para descobrir o que exatamente ela diz. Deixe-me contar-lhe outra coisa interessante que acontece quando você começa a ler a Bíblia de forma habitual: sua compreensão geral aumentará incrivelmente, porque a Bíblia explica a si mesma.
Mas algumas pessoas dirão: “Não importa o que você faça, não leio o livro de Apocalipse; é confuso demais.” Mas esse mesmo livro diz: “Feliz aquele que lê as palavras desta profecia” (1:3a). Não é tão difícil assim. Mas eu lhe direi uma coisa: você jamais compreenderá plenamente o livro de Apocalipse se não ler também Daniel, Isaías e Ezequiel. Todas as peças começam a se encaixar quando você lê toda a Palavra de Deus, e ficará maravilhado com as coisas que acontecerão em sua vida.
O primeiro fundamento de como estudar a Bíblia é, portanto, lê-la.
2- Fundamento número 2: interprete a Bíblia
Existem pessoas que não interpretam a Bíblia, simplesmente a aplicam. Elas a leem e passam diretamente para a aplicação sem interpretá-la, ou seja, simplesmente não se importam em descobrir o que ela pretende dizer. Nosso primeiro fundamento foi ler a Bíblia, e isso responde à nossa pergunta: O que a Bíblia diz? O segundo fundamento, a interpretação da Bíblia, responde à pergunta: O que a Bíblia quer dizer com aquilo que diz? Precisamos interpretar a Bíblia. Não podemos tomá-la como uma aspirina, pois não é um comprimido. Não podemos simplesmente dizer: “Bem, tive meu tempo devocional, estava lendo a Bíblia e decidi que é isso que ela quis dizer.” Não. Você precisa saber o que ela significa.
Encontramos uma passagem interessante em Neemias 8: Todo o povo juntou-se como se fosse um só homem na praça, em frente da porta das Águas. Pediram ao escriba Esdras que trouxesse o Livro da Lei de Moisés, que o Senhor dera a Israel. Assim, no primeiro dia do sétimo mês, o sacerdote Esdras trouxe a Lei diante da assembleia, que era constituída de homens e mulheres e de outros que podiam entender. Ele a leu em voz alta desde o raiar da manhã até o meio-dia (vv. 1-3a).
É por aqui que tudo começa — você precisa ler a Bíblia.
Continuando com o versículo 3c: “E todo o povo ouvia com atenção a leitura do Livro da Lei.” Depois, nos versículos 5-6: Esdras abriu o livro diante de todo o povo, e este podia vê-lo, pois ele estava num lugar mais alto. E, quando abriu o livro, o povo todo se levantou. Esdras louvou o Senhor, o grande Deus, e todo o povo ergueu as mãos e respondeu: ‘Amém! Amém!’ Então eles adoraram o Senhor, prostrados, rosto em terra.
As pessoas reagiram à Palavra adorando ao Senhor, mas a chave está no versículo 8: “Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando- o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido.” Você entende o que esse versículo diz? Por isso, devemos não só ler a Palavra, precisamos também procurar descobrir o significado daquilo que ela diz. Em 1Timóteo 4:13, Paulo diz a Timóteo como ele deve pregar: “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino.” Você entende o que ele quis dizer? Ele instruiu Timóteo a ler, a explicar (doutrina) e a aplicar o texto (exortação). Você não pode simplesmente ler e aplicar; você lê, explica e depois aplica — é isso que significa “manejar corretamente a palavra da verdade” (2Timóteo 2:15). Caso contrário, o resultado provável é uma interpretação errada, e a interpretação errada é a raiz de todo tipo de problemas.
Deixe-me mencionar algumas coisas que as pessoas ensinam hoje em dia com base em interpretações erradas. Em primeiro lugar, ensinam que, já que os patriarcas praticavam a poligamia, nós também podemos fazê-lo. Ou, já que o Antigo Testamento atribuía o direito divino ao rei de Israel, todos os reis têm direitos divinos. Ou, já que o Antigo Testamento aprovava a morte de bruxas, deveríamos estar matando bruxas. Ou, ainda, já que algumas das pragas do Antigo Testamento foram enviadas por Deus, deveríamos evitar sanções para não provocá-lo. E que tal esta? O Antigo Testamento ensina que as mulheres devem sofrer durante o parto como castigo divino, portanto, as mulheres não deveriam usar anestesia hoje em dia. Todos esses casos são interpretações equivocadas porque alguém não entendeu o que a Bíblia realmente diz e porque não entende a situação em que ela foi escrita.
- Princípios de interpretação
a) Primeiro, você deve usar o princípio literal. Isso significa ler as Escrituras em seu sentido literal, normal e natural. Haverá figuras de fala, mas isso é linguagem normal. Haverá símbolos, mas isso também é linguagem normal. Quando você estudar passagens apocalípticas, como em Zacarias, Daniel, Ezequiel, Isaías e Apocalipse, lerá sobre bestas e imagens. Trata-se de figuras de linguagem e de símbolos, mas eles transmitem uma verdade literal. Interprete a Bíblia em seu sentido normal, natural, caso contrário, fará uma interpretação não natural, anormal e insensata. Por exemplo: os rabinos diziam que se você pegar as consoantes do nome de Abraão, b-r-h-m, e as somar, chega ao número 318. Por isso, se analisar o nome de Abraão, isso significa que ele tinha 318 servos. O nome não significa isso. Significa simplesmente Abraão. Precisamos optar pela interpretação literal, normal e natural. Precisamos ter cuidado quando aparece alguém dizendo que existe um significado secreto e ele usar o versículo “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Coríntios 3:6b). Ele usa o método alegórico para extrair o significado oculto, secreto. Você sabe o que é isso? Ninguém sabe! Essas pessoas inventam. Não faça isso — interprete as Escrituras em seu sentido literal.
b) A Bíblia precisa ser estudada também segundo o princípio histórico, ou seja, o que o texto significava para as pessoas para as quais ele foi escrito? Dizem que um texto sem contexto (histórico) é pretexto. Em muitos casos, você precisa entender o contexto histórico, ou jamais entenderá completamente o que o autor pretendia.
c) Em terceiro lugar, precisamos entender o princípio gramatical. Quando estudamos a gramática, analisamos a oração e partes da fala, incluindo as preposições, os pronomes, os verbos e substantivos. Na escola, tivemos de aprender a analisar uma oração para descobrir o que ela dizia. Em Mateus 28:19-20, por exemplo, encontramos a Grande Comissão: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os [...] ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei.” A primeira impressão é que “vão”, “façam discípulos, batizando- os, ensinando-os” são verbos, mas, quando estudar a oração, descobrirá que existe um único verbo, matheteusate, “fazer discípulos”. “Ir”, “batizar” e “ensinar” nada mais são do que particípios, o que significa que eles modificam o verbo principal. O que a Grande Comissão diz é “façam discípulos” e, quando o fizerem, vão, batizem e ensinem. Quando você entende isso, o mandamento de Jesus se torna ainda mais pleno.
d) Em quarto lugar, há o princípio da síntese — é isso que os reformadores chamaram de analogia scriptura. Em outras palavras, uma parte da Bíblia não ensina algo que contradiga outra, por isso, quando estudar a Bíblia, tudo precisa se encaixar. Por exemplo, quando estiver lendo 1Coríntios e chegar a 15:29, em que Paulo fala sobre o batismo de mortos, você diz “Bem, essa é uma ideia nova. Você pode ser batizado no lugar de um morto e isso o salvará”? Mas será que a Bíblia permite que alguém seja batizado no lugar de uma pessoa morta? Onde a Bíblia diz isso? Isso não contradiz a doutrina da salvação? Essa não pode ser a interpretação correta dessa passagem, pois nenhuma passagem contradirá o ensinamento das Escrituras. Esse é o princípio da síntese.
3- Fundamento número 3: medite sobre a Bíblia
Não se apresse quando estiver estudando a Palavra de Deus. Deuteronômio 6:6-7 diz: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar.” Em outras palavras, a Palavra de Deus deveria ocupar sua mente o tempo todo.
Se estiver lendo o Antigo Testamento e um livro do Novo Testamento trinta vezes, o tempo todo, a Palavra ocupará sua mente a todo instante. A meditação é o que pegará todas essas partes e as reunirá para formar uma compreensão coerente da verdade bíblica. Deus diz também em Deuteronômio 6:8-9: “Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões.” Deus diz que ele quer sua Palavra em todos os lugares: “Eu a quero em sua boca, quando você se levanta, quando se deita, quando anda e quando se senta. Eu a quero na frente de sua casa, em seus portões, eu a quero em seus braços, pendurada entre seus olhos — eu a quero em todos os lugares!”
Mas vivemos numa cultura em que caminhamos pela rua e o lixo moral assalta nossos olhos constantemente — comerciais de bebidas alcoólicas, pornografia, humor grosseiro — e esse lixo invade nossa mente. Mas Deus disse que devemos tomar sua Palavra e fazer com que ela seja o cartaz na frente dos nossos olhos, para que ela preencha nossa mente e a nossa voz aonde quer que formos.
Certa vez, perguntaram a um homem: “Quando você não consegue dormir, fica contando carneirinhos?” Ele respondeu: “Não, eu converso com o Pastor.” É isso que Deus quer que seu povo faça: que converse com o Pastor, medite. Salmos 1:1-2 diz: “Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite.” Como a vaca que rumina, mastiga a mesma coisa repetidas e incansáveis vezes, assim nós também devemos meditar sobre a Palavra, repetindo-a incansavelmente.
4- Fundamento número 4: ensine a Bíblia
Por fim, devemos ensinar a Bíblia, pois a melhor maneira de aprender as Escrituras é compartilhando-a. Descobri que as coisas que aprendi ao ponto de poder ensiná-las são as coisas que eu guardo. Mas você sabia que é muito fácil não ser compreendido? Quando você ouve alguém falar e não entende nada daquilo que ele diz, então, provavelmente, ele também não sabe do que está falando. Mas é difícil ser claro, pois, para que algo possa sê-lo, você precisa dominar o assunto. Como professor, você é obrigado a dominar sua matéria, e, além disso, quando ensina, você aprende. Alimente alguém e veja como isso alimenta seu próprio coração. Acredito que a motivação pessoal para o estudo provém da responsabilidade, pois, se eu não tivesse alunos, não produziria.
Minha oração é que estas palavras lhe ajudem a começar a estudar a Palavra de Deus mais profundamente. Leia a Bíblia, interprete-a, medite nela e ensine-a . Mas, quando achar que já domina tudo, não se torne orgulhoso e diga: “Alcancei meu objetivo. Domino tudo.” Lembre-se de Deuteronômio 29:29a: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, ao nosso Deus.” Quando você disse tudo, fez tudo e aprendeu tudo, mal arranhou a superfície da mente de Deus. Mas sabe qual é o propósito? Seu propósito de estudar a Palavra de Deus não é adquirir conhecimento simplesmente para dizer que sabe, pois Paulo disse: “O conhecimento traz orgulho” (1Coríntios 8:1a). Seu propósito é conhecer Deus, e conhecer Deus significa aprender a ser humilde.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (2017). Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
MacArthur, John. Como estudar a Bíblia (pp. 112-116). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
8- COMO VENCER: O Mundo, a Carne e o Diabo
1- O Mundo: A Rede que nos Prende
Consideremos alguns dos aspectos do mundo, nos quais reside o poder, tanto para separar o homem de Deus como para lhe oferecer um campo onde servir ao Criador.
1.1- O Mundo: Campo de Aflições
Em primeiro lugar, o mundo é o local onde se experimenta alegria e tristeza; “a tristeza do mundo produz a morte” para os que não têm fé (2 Co 7.10). “No mundo passais por aflições” (Jo 16.33), falou Jesus aos seus seguidores. Não existe, neste mundo, um paraíso que nos permita escapar das dores físicas e mentais. Quem não seguir pelo caminho estreito da salvação, seguramente experimentará o peso da futilidade desta vida (Rm 8.20), além de um sem número de sofrimentos. O homem que gasta todas as suas forças e capacidades para evitar este vale de dores, amando sua vida neste mundo (Jo 12.25), certamente ficará mais decepcionado do que aquele que coloca poucas esperanças no mundo “que passa” (1 Co 7.31).
As aflições que acometem os filhos de Deus surgem de duas fontes. Eles sofrem as conseqüências da queda e da maldição de Deus sobre o mundo {cf. Gn 3.16-19) juntamente com toda a raça. Mas, além disso, são vítimas do ódio dos inimigos de Deus. O diabo não hesita em lançar “dardos inflamados” contra a igreja (Ef 6.16). Emprega os homens como seus servos (Jo 8.44) e os próprios demônios com crueldade eficaz (2 Co 12.7).
Mas para os que aguardam a feliz esperança do céu, os sofrimentos desta vida no mundo devem ser apenas uma “leve e momentânea tribulação [que] produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2 Co 4.17). Toda aflição que o mundo lança contra os cristãos, seja em forma de perseguição ou outra forma qualquer, será paga com pesada glória (“peso” vem do hebraico kabod que significa glória e também peso. Antigamente, a reputação e o valor de uma pessoa eram medidos pela sua riqueza, bens e honra na comunidade).
Por meio dos sofrimentos característicos do mundo, que envolvem suor, disciplina, cansaço e uma ampla gama de dores, o crente pode granjear valores que o alegrarão na eternidade. O mundo, visto sob este prisma, deve ser considerado uma escola para nossa fé. Deve criar alegria. Pedro, pelo menos, pensava assim: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6s.). Fora do mundo, escaparíamos das aflições, mas também não teríamos nenhum campo para aumentar o galardão eterno. No mundo vindouro, não se deve esperar crescer, amadurecer ou se aperfeiçoar.
Concluímos que o mundo amaldiçoado por Deus não é necessariamente um obstáculo para quem busca em primeiro lugar o reino de Deus. Ainda que esbofeteado pelo mundo, o servo obediente encontrará, precisamente nesse mundo, um campo de batalha, uma universidade para ganhar medalhas e colar graus para a vida eterna. Mas para aproveitar as oportunidades que o mundo oferece, o crente precisa valer-se de alguns valores do mundo e saber alcançar os valores eternos através deles.
1.2- O Mundo: Fonte de Ansiedade, Distração e Angústia
Em segundo lugar, por ser a fonte que supre todas as necessidades da vida, o mundo material gera ansiedade. Ainda que a vida seja mais preciosa do que o mundo inteiro, não é possível mantê-la aqui sem alimento, saúde física, casa, meios de locomoção e prpteção. Por ser a arena em que a humanidade experimenta sua dependência, o mundo suscita preocupação.
Fomos formados da terra (Gn 2.7), e a morte devolve o corpo ao chão do qual dependemos (Gn 3.19). Mas por sermos criados à imagem de Deus, não esperamos pacificamente a dissolução. A morte é o inimigo final desta vida e, portanto, queremos evitar o maior dos mistérios, custe o que custar. Instintivamente, desejamos viver; daí a preocupação com o mundo, que tanto pode manter nossa existência como tirá-la.
Muitos encaram o mundo como o tolo rico na parábola de Jesus (Lc 12.16-21). As terras do fazendeiro deram um lucro extraordinário. Diante do problema de superabundância, arrazoou consigo mesmo: “Estes grãos de que não preciso agora poderão servir na aposentadoria”. Assim esforçou-se em preservar toda a produção para se manter feliz durante longos anos, quando não teria forças para cultivar suas terras. Mas Deus lhe chamou de “tolo”, porque naquela mesma noite sua alma seria pedida (Lc 12.20). Quantas são as pessoas que diariamente confiam num futuro seguro e abastecido, sem dar a mínima atenção à insegurança da vida no mundo (Tg 4.13-17)!
Acidentes, doenças, crimes, terremotos, relâmpagos, guerra, secas e enchentes, além de muitas outras pragas, ameaçam a vida precária do homem. Todos esses eventos inesperados ocorrem no mundo, inculcando insegurança diante da incapacidade dos homens de controlarem o mundo que nos serve como mãe ou como um inimigo assassino, caprichoso.
Jesus nos adverte solenemente contra a ansiedade que a vida cria no homem. Em sua interpretação da parábola do semeador (Lc 8.11-15), as preocupações foram comparadas aos abrolhos e espinhos que sufocam a vida nova em Cristo (v. 14). À medida que cresce o temor a Deus, diminui nosso medo dos homens, da natureza e de eventos imprevisíveis.
Uma vez regenerado e inserido em Cristo, o cristão pertence a uma nova criação (2 Co 5.17). “As coisas antigas (tais como pecados, ambições egoístas e domínio de Satanás) já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Assim, o embaixador é o cidadão do céu (Fp 1.27; 3.20) que reside no mundo até morrer.
As implicações são profundas.
1) Ele precisa manter os interesses do reino de Deus acima dos do mundo ou de si mesmo.
2) Como embaixador, ele representa o rei. Fala em seu nome. A honra de sua pátria está em suas mãos e comportamento. Disse J. B. Lightfoot: “O embaixador... atua não só como agente, mas como repre sentante do seu soberano... o dever do embaixador não é só de entregar uma mensagem específica”,^mas executar um papel, observando, avalian do e promovendo tudo que diz respeito aos desejos do Rei e do Seu reino.
2- A CARNE: As Marcas da Carne
Passamos agora a considerar a carne no sentido de natureza humana pecaminosa. Paulo é o autor bíblico que apresenta freqüentemente esta acepção. Especialmente em Romanos e Gálatas, o apóstolo que defendeu a justificação pela fé discorre sobre as implicações que nossa salvação tem para a vida prática. A santificação é mais do que uma declaração divina da posição que Deus oferece graciosamente a todo aquele que crê. É um alvo que deve ser conquistado pela luta contra a “carne”. Não é fácil andar em direção à maturidade e perfeição, porque nossa natureza adâmica continua ocupando todo o espaço que o Espírito de Deus não domina. Somos novas criaturas em Cristo (2 Co 5.17; Cl 2.10), mas também velhos portadores do vírus do pecado, sujeitos a tentações e quedas (G1 6.1; Mt.13.15ss;Hb 4.15; 12.1).
Neste capítulo, desejamos esclarecer quais são as marcas e sinais da carne. Se reconhecermos as características e estratégias do inimigo dentro de nós, seremos menos vulneráveis na batalha diária contra o inimigo íntimo.
2.1- A Natureza da Carne
Nossa natureza caída, pecaminosa, caracteriza-se pela sutileza e hipocrisia. Todos temos uma tremenda dificuldade de enxergar nossa carnalidade. Vivemos atrás da máscara que nos esconde de nós mesmos. Impedimos que o espelho de Deus nos revele o que somos {cf. Tg 1.23s).
2.1. A auto-justificação revela nossa natureza de modo inegável. Nós cobrimos o mau cheiro dos pecados com o desodorante das desculpas. Defendemos nossas ações, sempre colocando em alto relevo as boas intenções. Casuisticaraente, queixamo-nos de que poucos ou mesmo ninguém nos entendem precisamente porque nossos colegas e familiares não se mostram convencidos pelas nossas tentativas de fugir da culpa através de palavras ou ações.
2.1.2) Prazer nas Falhas os Irmãos. Um sinal da “carne” é també aquele gosto perverso de receber notícias das falhas e pecados dos irmãos. Quedas sensacionais agradam particularmente à “carne”. Será que os tropeços dos colegas cristãos nos agradam porque sutilmente achamos que nossa luz brilha mais forte quando os luzeiros ao nosso redor se apagam?
A inveja, tão mal identificada num distante rincão do íntimo, orgulha-se em saber que, afinal, nós éramos melhores do que eles. Esta característica da “carne” aproxima o significado da figura do fermento contra o qual o Mestre solenemente advertiu os seus discípulos (Mt 16.6; Mc 8.15; Lc 12. 1).
2.1.3 Independência, Individualismo e Presunção.
Mais um característica da “carne” levanta sua cabeça na auto-avaliação. A independência e o individualismo, tão naturais e necessários ao desenvolvimento da criança na fé, podem conduzir ao caos quando os sucessos na vida cristã criam o sentimento de maturidade e firmeza. Somente o placar do inferno anunciará os gols que Satanás marcou contra o time de Deus, unicamente porque os que “corriam bem” (G1 5.7) concluíram que o poder para vencer nunca lhes abandonaria (c/ Jz 16.20). A patética desgraça de Sansão, que imaginou poder vencer os seus inimigos filisteus como de costume, quando não tinha mais força do que um homem comum, deve ser um aviso para todo filho de Deus. Se almejamos os dons para servir o corpo de Cristo, é preciso não pensar de nós mesmos além do que convém (Rm 12.3).
Para vencermos a limitação da carne se torna imperativo termos uma visão que ultrapasse os horizontes de nossa percepção limitada da realidade. Essa visão dominava o coração de Paulo. “Por isso não desanimamos; pelo contrário, mesmo que nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso da glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co 4.16-18).
Paulo referiu-se à existência física com o termo “homem exterior”, isto é, a carne que não contempla o eterno. Por não alcançar a visão beatífica, corrompe-se, ao invés de se renovar diariamente. “O que é nascido da carne, é carne” (Jo 3.6); quer dizer, o material só pode reproduzir-se de forma natural, não espiritual nem sobrenatural. Sem dúvida alguma, a “carne e sangue não podem herdar o reino de Deus” (1 Co 15.50). É o corpo natural que, na ressurreição, dará lugar ao corpo espiritual, um novo corpo eternamente livre de todas as ameaças e males que hoje nos assolam. De fato, como afirma o apóstolo, “o corpo é para o Senhor” (1 Co 6.13), mas a carne caminha impreterivelmente para o velório e a decomposição no túmulo.
2.2- Como Lutar Para Vencer a Carne
Como ocorre em toda batalha, o sucesso depende de estratégia inteligente e armas eficazes. As características marcantes que distinguem os inimigos da “carne” requerem estratégias específicas. As armas que usamos no combate contra Satanás nâo podem ser usadas da mesma forma na luta contra os dois inimigos restantes, i.e., o mundo e a carne (cf. 2 Co 2.11). Impera, portanto, a necessidade de se encontrar uma forma sábia de atacar a nossa inclinação para o mal.
2.2.1- A Carne é Fraca
Primeiramente, urge notar que a carne é basicamente fraca, mesmo que, em seu orgulho, não admita. Por isso, Paulo afirma que a lei exigia o impossível do homem: “Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado” (Rm 8.3).
2.2.2- A Boa Consciência
Seremos mais eficazes na luta contra a carne se reconhecermos que a nossa fraqueza humana, que deve criar uma dependência no Senhor, tem um outro lado, oposto e perigoso. A rejeição da boa consciência leva ao naufrágio na fé (1 Tm 1.19),
2.2.2- OAuxílio Externo
A inconstância e lentidão da carne na luta para realizar o “bem que está em mim” (Rm 7.18) exigem uma capacitação externa. Assim como os guerreiros israelitas não podiam imaginar de que maneira venceriam o filisteu Golias (1 Sm 17), até que o jovem Davi enfrentou o gigante em nome do Senhor dos Exércitos, todos necessitamos do Espírito para vencer a força iníqua ameaçadora. Numa atitude sábia, Davi não confiou na armadura de Saul (1 Sm 17.38s.). Igualmente frustrantes são os conselhos humanistas que tentam defender o servo de Deus de sua inclinação pecaminosa.
À proporção que o Espírito de Deus enche nossas vidas, o poder dominador da carne diminui. A afirmação de que a carne e o Espírito são opostos entre si (G1 5.17) aponta para as influências contrárias que eies exercem sobre nossas vidas e atitudes.
2.3-Quatro Estratégias Bíblicas para Orientar a Luta
0 apóstolo Paulo estabelece mais quatro estratégias para vencer o inimigo, a carne. São muito mais fáceis de lembrar do que praticar, uma vez que sufocar os desejos que nossa natureza suscita, mortificá-los, fugir deles e despojá-los não são tarefas realizáveis, a não ser que haja muita sabedoria e motivação. Examinemos com cuidado cada maneira de lutar contra a carne com oração e humildade.
2.3.1- A Destruição das Fontes de Sustento
Em primeiro lugar, devem-se tomar medidas para sufocar a carne, privando-a de tudo que a sustenta. “Nada disponhais (grego, pronoian, ‘premeditação’) para a carne, no tocante às suas concupiscências” (desejos malignos, Rm 13.14), exclama Paulo.
2.3.2- A Mortificação da Carne
Devemos “matar” a nossa natureza terrena (Q 3.5). Este assassinato espiritual, literalmente, “de nossos membros que estão sobre a terra”, fala das práticas que se utilizam dos membros do corpo para efetuar suas atividades. Como podemos tirar a vitalidade ou força das paixões que nos atormentam? do Espírito: “... mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Rm 8.13).
2.3.3- O Afastamento das Paixões
A vitória sobre a força maligna em nós mesmos demanda fuga (1 Tm 6.11). Não se pode fugir de Satanás, nem do mundo (a não ser por intermédio da morte física), mas “o homem de Deus” deve correr em direção oposta à avareza (amor ao dinheiro, 1 Tm 6.10) e às “muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína” (1 Tm 6.9). Os homens que buscam em primeiro lugar todas as coisas, em vez do reino, desviam-se da fé, “e a si mesmos se atormentam com muitas dores” (1 Tm 6.10).
2.3.4- O Despojamento da Carne
Em quarto lugar, Paulo exorta os seus leitores a se despojarem do “velho homem” e se revestirem do “novo homem”(Ef 4.22,24s.;Rm 13.12, 14; Cl 3.8; Hb 12.1; Tg 1.21; 1 Pe 2.1). A figura de tirar as roupas da velha vida, anterior ao arrependimento e conversão, surgiu do batismo. O neófito, uma vez convicto de que a vida sujeita aos apetites da carne não era digna da nova criação (2 Co 5.17), despojava-se de suas velhas roupas, recebia o banho cristão (Jo 13.10) e, em seguida, vestia trajes novos que representavam a pureza de vida. O começo da vida cristã exige fé pessoal, sincera, em Jesus Cristo. A vida de fé caracteriza-se também pela obediência.
3- Satanás: O Inimigo Destruidor do Cristão
Nenhum crente convicto duvida de que haja um terceiro inimigo do cristão, feroz como um leão que ruge, faminto e cruel, à procura de alguém para devorar (1 Pe 5.8). Todavia, pouco se entende de sua natureza e atuação.
3.1- As Estratégias Satânicas
As conquistas do diabo têm uma explicação bíblica. O Maligno é forte, sim, mas, muito mais que isso, ele é inteligente. Como os melhores generais da história, ele planeja bem e ataca quando e como menos se espera. Paulo, sendo orientado pelo Senhor, ordenou que os coríntios perdoassem e restaurassem o irmão disciplinado pela igreja, “para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios” (noêmata, “propósitos”, no sentido mau de “tramas”, “ardis”, 2 Co 2.11).
3.1.1- Ignorância e Cegueira
Mantendo os homens ignorantes acerca dos seus métodos de atuação, Satanás tem uma enorme vantagem na sua batalha pelas almas. Os incrédulos são mantidos em cegueira espiritual (2 Co 4.4). Disse Vitor Hugo: “Um bom general deve penetrar no cérebro do seu inimigo”.^ Enquanto o diabo puder manter os homens ignorantes acerca da seriedade da condição em que se encontram, nenhuma mensagem os libertará.
3.1.2- Engano, Ilusão e Valores Invertidos
Seguramente, nenhuma flecha infernal alcançou mais vítimas do que a falsa premissa. As investidas satânicas contra seus próprios seguidores e os filhos de Deus são notórias na Bíblia.
Satanás emprega idéias “universalmente aceitas” para convencer os homens de que as suas sugestões ardilosas são válidas. Considere o exemplo de Pedro, que emprestou sua mente e língua ao diabo, tornando-se pedra de tropeço para Jesus (Mt 16.23).
3.1.3- A Armadilha das Escrituras Torcidas
Não é de admirar que Satanás aproveite outro método para derrubar os fiéis. A Bíblia torna-se arma em suas mãos para conseguir seus objetivos. Temos um exemplo notável na tentação de Jesus. Satanás sugeriu que Ele se atirasse do pináculo do templo, um prodígio que convenceria a população judia a confiar nEle como o Messias.
É incontestável que os falsos profetas a serviço do Enganador precisam de pouca astúcia para desviar os santos rumo aos “ensinos de demônios” (1 Tm 4.1), quando eles têm conhecimentos tão superficiais da doutrina bíblica. Pela parábola do semeador, Jesus ensinou que é Satanás quem tira a palavra semeada nos corações humanos (Mc 4.15).
4- O Ataque e a Defesa do Cristão
Para vencer as ciladas satânicas é preciso uma compreensão bíblica de luta e defesa. Estratégias eficazes precisam ser identificadas e praticadas. Jesus utilizou uma defesa modelar quando enfrentou a tentação do adversário no deserto. Ele reconheceu tanto a origem da tentação como o seu objetivo. Em Sua perfeita defesa, Cristo elevou a autoridade da Bíblia acima da racionalização e dos interesses humanos. “Está escrito...” bastava para encerrar qualquer discussão. A Bíblia inspirada, corretamente interpretada, deve ser a última palavra em qualquer discussão travada com Satanás.
4.1- Não Dar Lugar ao Diabo (Ef4.27)
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (Ef 4.26s.). Lutar com sucesso contra este inimigo infernal requer uma ampla compreensão deste curto versículo.
4.2- Reivindicar a União com Cristo
Um dos objetivos da vinda de Jesus Cristo ao mundo foi “destruir as obras do diabo” (1 Jo 3.8). Foi na cruz que se travou a batalha principal. Os principados e potestades (provavelmente os mais poderosos servos na hierarquia do Maligno) caíram em confusão diante dessa investida. Paulo declara que foram despojados quando Cristo “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). Pela sua morte vicária, nosso Senhor aniquilou o poder de Satanás sobre suas vítimas que, em seguida, passaram a pertencer a Jesus (Ef 4.8). O infinito poder de Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos e o fez “sentar à sua direita... acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio e de todo nome...” é o mesmo poder que constantemente levanta os mortos em delitos e pecados (Ef 1.19-21; 2.1-6). Quando Deus incluiu os cristãos nos acontecimentos salvíficos, o domínio de Satanás também foi atingido. O cristão outrora “andava segundo o príncipe da potestade do ar” (Ef 2.2); agora anda em novidade de vida, porque está “em Cristo”.
4.3-Vestir Toda a Armadura de Deus (Ef 6.10-18)
De acordo com o conhecido trecho de Efésios, sabemos que nossa luta não é contra pessoas físicas (“carne e sangue”), mas contra inteligências desencarnadas que dominam as trevas do mundo. Essas “forças espirituais do mal” (Ef 6.12) tornam efetiva a força presente de Satanás.^ Quem cai diante delas é vencido pelo diabo.
A vitória é nossa se resistirmos no dia mau (v. 13), após vencer tudo que destruiria nossa fé. Se os nossos inimigos infernais são tão numerosos e cheios de poder (e.g., “potestades, dominadores deste mundo”), há certeza absoluta de que qualquer resistência contra eles será inútil, a não ser que estejamos vestidos com toda a armadura {gr.panóplia) de Deus. As trevas são ineficazes contra as armas fornecidas por Deus.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (2017). Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Shedd, Russell P., 1929- 0 mundo, a carne e o diabo / Russell Shedd. — São Paulo : Vida Nova, 1995.
9- O BATISMO E A CEIA DO SENHOR
BATISMO
1.A Forma e significado do batismo
A prática do batismo no Novo Testamento era realizada somente de uma maneira: a pessoa que era batizada era imersa, ou posta completamente dentro da água, e, em seguida, retirada. Portanto, o batismo por imersão é a “forma” do batismo, ou a maneira pela qual o batismo era realizado no Novo Testamento. Isso é evidente pelas seguintes razões:
1. Em primeiro lugar, a palavra grega *baptizo* significa “mergulhar”, “imergir” algo na água. Esse é o sentido geralmente reconhecido e o significado padrão do termo no grego antigo, tanto dentro quanto fora da Bíblia.
2. A segunda razão é que o significado de “imergir” é adequado e provavelmente exigido para essa palavra em várias passagens do Novo Testamento. Em Marcos 1:5, as pessoas eram batizadas por João “no rio Jordão” (o texto grego contém a palavra *en*, “em”, e não ao lado, nem “à margem”, ou “perto” do rio). Marcos também nos conta que, quando Jesus foi batizado, “saiu da água” (Marcos 1:10).
O texto grego destaca que ele veio “para fora” (*ek*) da água, não que ele veio da água (que seria expresso de uma forma melhor pela palavra grega *apó*). O fato de que João e Jesus tinham ido ao rio e saído dele sugere fortemente a imersão, já que a aspersão ou a afusão da água podiam ser feitas de modo bem mais fácil à beira do rio, principalmente pelo fato de que multidões tinham vindo para o batismo. Além disso, o Evangelho de João nos diz que João Batista “estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas” (João 3:23).
Novamente, não são necessárias “muitas águas” para batizar as pessoas por aspersão, mas seria preciso muita água para batizar por imersão (Atos 8:36).
3. Em terceiro lugar, o simbolismo da união com Cristo em sua morte, sepultamento e ressurreição parece exigir o batismo por imersão. Paulo diz: “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova” (Romanos 6:3-4). De modo parecido, Paulo diz aos colossenses: “Vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2:12).
Ora, essa verdade é simbolizada de forma clara no batismo por imersão. Quando o candidato para o batismo desce às águas, ele retrata sua descida ao sepulcro para ser sepultado. Sair da água retrata sua ressurreição com Cristo para andar em novidade de vida. Desse modo, o batismo retrata claramente a morte para a velha maneira de viver e a ressurreição para um novo tipo de vida em Cristo, mas o batismo por aspersão ou afusão simplesmente perde esse simbolismo.
Às vezes se contesta dizendo que o aspecto essencial simbolizado pelo batismo não consiste na morte e ressurreição com Cristo, mas sim na purificação e na limpeza dos pecados. Certamente, é verdade que a água é um símbolo evidente da lavagem e da purificação. As águas do batismo realmente simbolizam a lavagem e a purificação dos pecados tanto quanto a morte e a ressurreição com Cristo (Tito 3:5; Atos 22:16). No entanto, dizer que a lavagem dos pecados é a única coisa (ou mesmo a coisa mais básica) retratada pelo batismo não representa fielmente o ensino do Novo Testamento. Tanto a lavagem quanto a morte e a ressurreição de Cristo são simbolizadas pelo batismo, mas Romanos 6:1-11 e Colossenses 2:11-12 trazem um claro destaque em morrer e ressuscitar com Cristo.
Até mesmo a lavagem é bem mais eficazmente simbolizada pela imersão do que pela aspersão ou afusão. Inclusive, a morte e a ressurreição com Cristo só podem ser simbolizadas pela imersão, não pela aspersão nem pela afusão.
Então, qual é o sentido positivo do batismo? Em toda a discussão sobre o modo do batismo e nas disputas sobre o seu significado, é fácil ver que os cristãos perdem de vista a importância e a beleza do batismo e desconsideram a bênção tremenda que acompanha essa cerimônia. As verdades incríveis de morrer e ressuscitar com Cristo e de ter nossos pecados purificados se constituem verdades de proporções gigantescas e eternas e devem ser uma oportunidade para dar grande glória e louvor a Deus. Se as igrejas ensinassem essas verdades de forma mais clara, o batismo seria uma ocasião de muito mais bênção na igreja.
B. Quem deve ser batizado?
O padrão revelado em várias passagens do Novo Testamento é o de que somente aqueles que fazem uma profissão de fé digna de crédito devem ser batizados. Essa visão geralmente é chamada de “batismo dos crentes”, pois somente aqueles que manifestaram uma fé pessoal em Cristo (ou, de modo mais preciso, aqueles que deram provas condizentes de que creem em Cristo) devem ser batizados. Isso é porque o batismo, que é símbolo do início da vida cristã, somente deve ser concedido àqueles que iniciaram de fato uma vida nova.
O argumento das passagens narrativas sobre o batismo no Novo Testamento.
Os exemplos narrativos daqueles que foram batizados sugerem que o batismo só era ministrado àqueles que professavam uma fé digna de crédito. Depois da pregação de Pedro em Pentecostes, lemos: “Os que aceitaram a mensagem foram batizados” (Atos 2:41). O texto destaca que o batismo era ministrado àqueles que “aceitaram a mensagem” e, portanto, creram em Cristo para obter a salvação. De modo parecido, quando Filipe pregou o Evangelho em Samaria, lemos: “No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram nele, e foram batizados, tanto homens como mulheres” (Atos 8:12).
Semelhantemente, quando Pedro pregou aos gentios na casa de Cornélio, o apóstolo permitiu que fossem batizados aqueles que ouviram a Palavra e receberam o Espírito Santo – isto é, aqueles que deram provas convincentes de uma obra interior de regeneração. Enquanto Pedro estava pregando, “o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem”, e Pedro e seus companheiros “os ouviam falando em línguas e exaltando a Deus” (Atos 10:44-46). A resposta de Pedro foi que o batismo é adequado para aqueles que receberam a obra regeneradora do Espírito Santo: “Pode alguém negar a água, impedindo que estes sejam batizados? Eles receberam o Espírito Santo como nós! Então Pedro ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo” (Atos 10:47-48).
O sentido dessas três passagens é dizer que o batismo é concedido de forma adequada a quem recebe o Evangelho e confia em Cristo para obter a salvação.
2. O argumento do significado do batismo.
Uma segunda análise que defende o batismo dos crentesvem do significado do batismo: o símbolo exterior do início da vida cristã só deve ser dado àqueles que dão provas de ter iniciado essa vida. Os escritores do Novo Testamento escrevem como se presumissem que todos que eram batizados tinham também crido em Cristo de forma pessoal e experimentado a salvação.
Por exemplo, Paulo diz: “Pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram” (Gálatas 3:27). Paulo, nessa passagem, pressupõe que o batismo é o sinal exterior de uma regeneração interior. Isso simplesmente não pode acontecer com as crianças – Paulo não poderia ter dito: “Pois as crianças que foram batizadas se revestiram de Cristo”, porque os bebês ainda não haviam desenvolvido a fé salvadora, nem dado nenhuma prova de regeneração.
Paulo fala do mesmo modo em Romanos 6:3-4: “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo”. Será que Paulo poderia ter dito isso se referindo a crianças? Será que ele poderia dizer que “todas as crianças que foram batizadas em Cristo Jesus foram batizadas em sua morte” e, portanto, “foram batizadas com ele no batismo em sua morte”? Se Paulo não podia dizer isso sobre as crianças, então aqueles que defendem o batismo infantil precisam dizer que o batismo tem um significado diferente para as crianças com relação ao que Paulo dá a entender quando diz “todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus”.
As pessoas que defendem o batismo infantil, nesse ponto, recorrem ao que me parece ser uma linguagem vaga sobre as crianças serem adotadas “na aliança” ou “na comunidade da aliança”, mas o Novo Testamento não fala desse modo sobre o batismo. Pelo contrário, diz que todos os que foram batizados foram sepultados com Cristo, ressuscitados com ele e se revestiram dele (cf. Colossenses 2:12).
3- O efeito do batismo.
Acabamos de afirmar que o batismo simboliza a regeneração ou o renascimento espiritual, mas será que ele simboliza somente isso, ou existe algum modo de ele consistir em um “meio de graça”, ou seja, um meio que o Espírito Santo usa para abençoar as pessoas? Parece adequado dizer que o batismo, quando é realizado da forma correta, com certeza também traz algum benefício espiritual ao cristão.
Existe a bênção do favor de Deus que acompanha a obediência, bem como a alegria que vem por meio da profissão pública de sua fé, e o consolo de ter um retrato físico do fato de ter morrido e ressuscitado com Cristo, bem como ter recebido a purificação dos pecados. De fato, o Senhor nos deu o batismo para fortalecer e incentivar a nossa fé – e isso ele o faz para todos os que são batizados e para cada cristão que presencia um batismo.
A CEIA DO SENHOR
O Senhor Jesus instituiu duas ordenanças (ou sacramentos) a serem observadas pela igreja. O capítulo anterior estudou o batismo, a ordenança que se realiza somente uma vez como sinal do início da sua vida cristã. Este capítulo estuda a ceia do Senhor, a ordenança que deve ser celebrada várias vezes por toda a nossa vida cristã como sinal da permanência na comunhão com Cristo.
A. Refeição na presença de Deus: uma bênção especial em toda a Bíblia
Jesus instituiu a ceia do Senhor da seguinte forma: Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: “Bebam dele todos vocês. Istoé o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mateus 26:26-29).
Paulo acrescenta as seguintes frases com base na tradição que recebeu (1 Coríntios 11:23): “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isto, sempre que o beberem, em memória de mim” (1 Coríntios 11:25). Será que existe algum precedente dessa cerimônia no Antigo Testamento? Parece que sim, porque também houve momentos de comida e bebida na presença de Deus na antiga aliança. Por exemplo, quando o povo de Israel estava acampado diante do monte Sinai. Deus, logo depois de ter dado os Dez Mandamentos, chamou os líderes de Israel ao monte para se encontrar com ele: “Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta autoridades de Israel subiram e viram o Deus de Israel. [...] eles viram a Deus, e depois comeram e beberam” (Êxodo 24:9-11). Além disso, todo ano o povo de Israel devia dar o dízimo (um décimo) de toda a sua colheita. Então, a lei de Moisés definia: Comam o dízimo do cereal, do vinho novo e do azeite, e a primeira cria de todos os seus rebanhos na presença do Senhor, o seu Deus, no local que ele escolher como habitação do seu Nome, para que aprendam a temer sempre o Senhor, o seu Deus [...] Então juntamente com suas famílias comam e alegrem-se ali, na presença do Senhor, do seu Deus. (Deuteronômio 14:23,26).
Entretanto, bem antes desse evento, Deus havia colocado Adão e Eva no jardim do Éden e lhes deu de toda a sua abundância para comer (exceto do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal). Já que não havia pecado naquela situação, e Deus os criara para desfrutarem da comunhão com ele e para a sua glória, toda refeição que Adão e Eva faziam acabaria sendo uma refeição de celebração na presença do Senhor. No momento em que essa comunhão na presença de Deus foi interrompida pelo pecado, Deus ainda permitiu algumas refeições (como o dízimo dos frutos que acabamos de mencionar), que as pessoas comeriam em sua presença.
Essas refeições se constituíam restauração parcial da comunhão com Deus, a qual Adão e Eva desfrutavam antes da queda. Embora tenha sido prejudicada pelo pecado, o costume de fazer uma refeição na presença de Deus, a ceia do Senhor, é bem melhor. As refeições sacrificiais do Antigo Testamento continuamente destacavam o fato de que os pecados não tinham ainda sido pagos. Os sacrifícios que faziam parte delas eram repetidos ano a ano, e apontavam para o Messias que viria e levaria o pecado (cf. Hebreus 10:1-4).
No entanto, a ceia do Senhor recorda-nos que o pagamento de Jesus pelo nosso pecado já foi realizado, de modo que agora podemos fazer nossa refeição na presença de Deus com grande alegria. Porém, até mesmo a ceia do Senhor anseia por uma refeição de comunhão mais emocionante na presença de Deus no futuro, quando a comunhão do Éden será restaurada e haverá uma alegria ainda maior, porque aqueles que comerão na presença de Deus serão pecadores perdoados confirmados em justiça, que nunca mais pecarão.
Essa refeição futura na presença de Deus é sugerida por Jesus quando diz: “Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mateus 26:29). Temos um retrato mais claro no Apocalipse sobre as bodas do Cordeiro: “E o anjo me disse: ‘Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’” (Apocalipse 19:9).
Será um momento de grande alegria na presença do Senhor, e também um momento de temor e tremor diante dele. Portanto, de Gênesis a Apocalipse, o propósito de Deus tem sido trazer seu povo à comunhão com ele. Uma das maiores alegrias de experimentar essa comunhão é o fato de que podemos comer e beber na presença do Senhor. Será saudável para a igreja de hoje resgatar uma sensação mais profunda da presença de Deus na mesa do Senhor.
B. O significado da ceia do Senhor
O significado da ceia do Senhor é complexo, rico e completo. A ceia do Senhor afirma e simboliza vários pontos.
A morte de Cristo. Quando participamos da ceia do Senhor, simbolizamos a morte de Cristo em nosso lugar. Quando partimos o pão, entendemos que o corpo de Cristo foi partido e, quando tomamos do cálice, lembramos do derramamento do sangue de Jesus por nós. É por isso que participar da ceia do Senhor se constitui também um tipo de proclamação: “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” (1 Coríntios 11:26).
Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo. Jesus ordenou a seus discípulos: “Tomem e comam; isto é o meu corpo” (Mateus 26:26). À medida que cada um toma o cálice para si, está proclamando: “Estou me apropriando dos benefícios da morte de Cristo”. Com essa atitude, participamos dos benefícios conquistados em nosso favor pela morte de Cristo.
Alimento espiritual. Do mesmo modo que as refeições normais alimentam nosso corpo físico, o pão e o vinho da ceia do Senhor servem de refrigério espiritual que Cristo concede à nossa alma – de fato, a cerimônia que Jesus instituiu foi criada em seu próprio caráter para nos ensinar isso. Jesus lhes disse: “Eu lhes digo a verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa” (João 6:53-57) Com certeza, Jesus não está falando de comer literalmente sua carne e sangue, nem mesmo está falando de uma alimentação literal. Ele se refere a uma participação espiritual nos benefícios da redenção. Esse alimento espiritual, tão necessário para nossa alma, é simbolizado e experimentado em nossa participação na ceia do Senhor.
A unidade dos cristãos. Quando os cristãos participam juntos da ceia do Senhor, também dão um sinal claro de sua unidade uns para com os outros. Na verdade, Paulo diz: “Por haver um único pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão” (1 Coríntios 10:17). Quando colocamos esses quatro elementos juntos, começamos a perceber parte do sentido da ceia do Senhor. Quando eu participo e venho à presença de Cristo, lembro-me de que ele morreu por mim, participo dos benefícios da sua morte, recebo alimento espiritual e me uno a todos os outros cristãos que participam nessa ceia. Que grande motivo de ação de graças e alegria se encontra nessa ceia do Senhor! Além dessas verdades que são retratadas na ceia do Senhor, o fato de que Cristo instituiu essa cerimônia para nós indica que, por meio dela, ele também promete ou afirma algumas questões. Quando participamos da ceia do Senhor, devemos nos lembrar todas as vezes das duas afirmações que ele nos transmite:
Cristo afirma seu amor por mim. O fato de poder participar da ceia do Senhor – na verdade, é Jesus quem me convida – é um lembrete nítido e uma confirmação visual de que Cristo me ama de modo individual e pessoal. Quando venho participar da ceia do Senhor, recebo uma nova confirmação do amor pessoal de Cristo por mim.
Cristo afirma que todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim. Quando respondo ao convite de Cristo para a ceia do Senhor, recebo as bênçãos abundantes que ele tem para mim. Nessa ceia, estou comendo e bebendo como uma amostra da grande mesa do banquete do Rei. Eu venho à sua mesa como membro de sua família eterna. Quando o Senhor me recebe nessa mesa, ele me garante acesso a todas as outras bênçãos da terra e do céu também; especialmente às grandes bodas do Cordeiro, onde um lugar foi reservado para mim.
Eu afirmo a minha fé em Cristo. Por fim, quando tomo o pão e o cálice para mim, pelas minhas ações estou proclamando: “Preciso de ti e confio em ti, Senhor Jesus, para perdoar meus pecados e conceder vida e saúde para minha alma, porque somente por meio do seu corpo que foi ferido e do sangue que foi derramado eu posso ser salvo”. Na verdade, no momento em que participo do partir do pão, comendo dele, e do derramar do cálice, bebendo dele, proclamo mais uma vez que os meus pecados foram a razão pela qual Jesus sofreu e morreu. Desse modo, a tristeza, a alegria, a gratidão e o amor profundo por Cristo se combinam de uma forma rica na beleza da ceia do Senhor.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (2017). Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Grudem, Wayne. Teologia sistemática ao alcance de todos (pp. 621-622). Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.
10- MORDOMIA CRISTÃ
INTRODUÇÃO
Nessa aula estudaremos a Mordomia Cristã. Ela prioriza os bens espirituais e materiais que o Criador nos delegou. Nesta lição, denominamos “bens espirituais” os recursos e os meios confiados por Deus à Igreja. Quanto aos “bens materiais”, são estes os recursos naturais e sociais que desfrutamos no mundo. Assim, veremos que o Pai levantou a Igreja para cuidar dos seus interesses na Terra.
I – CONCEITOS DE MORDOMIA
1. Mordomo. A palavra vem do latim, major domu, e significa “o criado maior da casa”, “administrador dos bens de uma casa”, “ecônomo” (Dicionário Aurélio)
Na Bíblia, a função aparece diversas vezes como “encarregado administrativo dos bens de um grande proprietário de terras”. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento essa função corresponde à de um administrador. Portanto, nós somos mordomos de Deus e, à luz do Novo Testamento, os líderes espirituais têm maior responsabilidade perante o Senhor da Igreja (Lc 12.48).
2. Mordomia. A palavra significa “cargo ou ofício do mordomo; mordomado”. Sua origem está no termo grego oikonomia e, por isso, a encontramos em alguns textos do Novo Testamento, como na “Parábola do mordomo infiel” (Lc 16.2-4). Na Bíblia, mordomia diz respeito a todo serviço que o crente realiza para Deus e o seu comportamento diante do Pai e dos homens. É a administração dos bens espirituais e materiais, tanto no aspecto individual quanto no coletivo do ser humano. Assim, nossas faculdades espirituais, emocionais e físicas são o objeto da Mordomia Cristã. Por isso, esta mordomia está ligada ao ensino da Palavra de Deus.
II – A MORDOMIA ESPIRITUAL DO CRISTÃO
1. A mordomia do amor cristão. A mordomia cristã deve dar grande valor à prática do amor. Certa vez, um fariseu resolveu testar Jesus quanto à sua visão sobre os mandamentos da lei de Moisés. Ele conhecia bem os dez mandamentos. Abordando Jesus, indagou-lhe: “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?” (Mt 22.36). E Jesus respondeu-lhe de maneira sábia, serena, e consistente:
1.1. “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração” (22.37). Nosso Senhor não aceita dominar apenas uma parte do nosso coração; Ele o requer por completo. Quanto a isso, Ele nunca fez concessões: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mt 12.30).
1.2. “De toda a tua alma e de todo o teu pensamento” (v.37). Aqui, o Senhor Jesus enfatizou que, além de todo o coração, o primeiro mandamento exige toda a alma e todo o pensamento de uma pessoa. Essa é a base bíblico-doutrinária para dizer que a Mordomia Cristã valoriza a interiorioridade do crente. Logo, absolutamente tudo no interior do cristão – coração, alma e pensamento – deve estar voltado para Deus, que é o centro de todas as coisas.
1.3. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (22.38). O segundo mandamento enfatiza que, na medida em que amamos a Deus de todo coração, alma e pensamento, devemos amar o próximo como a nós mesmos. Tal mandamento é relevante para a nossa mordomia, pois no mundo atual, sem qualquer ranço pessimista, pode-se ver que o desamor é a tônica entre pessoas, famílias, países e, até mesmo, entre alguns que se dizem cristãos.
1.4. Quem é o próximo? Esta foi a grande pergunta feita por Jesus após contar a parábola do Bom Samaritano ao doutor da lei (Lc 10.30-37). O nosso próximo é um familiar: esposo, esposa, pai e filho, irmão, primo, sobrinho, etc. É o nosso irmão em Cristo, o nosso vizinho, o professor, o colega de trabalho, o carente ou o socialmente excluído. Assim, o mandamento revela o objeto da nossa mordomia de amor: fazer o bem ao próximo de forma concreta, com obras que revelam a nossa fé (Tg 2.14-17).
2. A mordomia da fé cristã. A palavra fé (gr. pistis; lat. fides) traz a ideia de confiança que depositamos em todas providências de Deus. Mas a melhor definição de fé foi enunciada pelo autor da Epístola aos Hebreus, ao descrevê-la com profunda inspiração divina: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1). Aqui, há três características essenciais à fé: (1) Ela é o fundamento ou base para a confiança em Deus; (2) Ela envolve a esperança ou expectativa segura do que se espera da parte de Deus; (3) Ela é “a prova das coisas que não se veem”, mas são esperadas por uma convicção antecipada.
3. A fé como patrimônio espiritual. A fé cristã é o depósito espiritual acumulado durante toda vida do crente. É o nosso patrimônio espiritual, de valor e virtudes inestimáveis. Essa fé que o crente foi estimulado a guardar para não perder a “coroa” (Ap 3.11). Ao escrever ao jovem discípulo, Timóteo, e já próximo da morte, o apóstolo Paulo disse: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8). Querido irmão, prezada irmã, guarde sua fé!
III – A MORDOMIA DOS BENS MATERIAIS
1. O cristão e as finanças. Na mordomia dos bens materiais, o cristão deve trabalhar honestamente para garantir sua sobrevivência financeira. Desde o Gênesis, após a Queda, o homem emprega esforços, com “o suor” de seu rosto (Gn 3.19), para obter os bens de que necessita. Isso é feito de maneira constante (1 Ts 4.11). Nesse aspecto, a preguiça é um pecado intolerável diante de Deus. Assim, Ele exorta ao preguiçoso que aprenda com as formigas, pois estas trabalham no verão para garantir o mantimento no inverno (Pv 6.6,9; 10.26).
2. O cristão e as riquezas. Deus não demoniza a riqueza nem diviniza a pobreza. Mas o cristão não deve recorrer aos meios ou práticas ilícitas de ganhar dinheiro, como o bingo, a rifa, as loterias e outras formas “fáceis” de buscar riquezas (Pv 28.20).
A Bíblia mostra que a avareza é a idolatria ao dinheiro, ou seja, uma compulsão para enriquecer a qualquer custo. É uma escravidão ao vil metal. Sobre isso as Escrituras também asseveram: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.10).
E Jesus ensinou: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza, porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15). E também ratificou: “Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam” (Mt 6.20).
3. O cristão e a contribuição para a igreja. Na igreja local há várias maneiras pelas quais o cristão pode e deve contribuir para a expansão e manutenção da Obra do Senhor. Essa contribuição deve ser feita através dos dízimos e das ofertas voluntárias (cf. Ml 3.8-12). Jesus reiterou a necessidade da contribuição com os dízimos, repreendendo a hipocrisia dos fariseus (Mt 23.23), pois há inúmeras necessidades da igreja que requerem as contribuições dos fiéis.
IV - UMA ANALISE DA PARÁBOLA DOS TALENTOS
A parábola dos talentos – como administrar os recursos de Deus (25.14–30)
Depois de falar de si mesmo como noivo, agora Jesus se apresenta como um homem de negócios que partiu para fora de sua terra. Depois de mostrar a necessidade de estarmos preparados para sua vinda, ele mostra como devemos ser diligentes enquanto o aguardamos. As virgens e os servos representam um só e o mesmo povo. A vigilância é a nota-chave da primeira parábola, e a diligência é a ênfase da segunda. A história sobre as virgens exorta a igreja a vigiar; a história sobre os talentos conclama a igreja a trabalhar.
A viagem que Jesus fez quando voltou para o céu e até seu retorno é realmente longa, mas ele não deixou seus servos sem suprimento e trabalho nesse tempo de ausência. Tanto a parábola das dez virgens como a parábola dos talentos têm a ver com os cristãos meramente nominais e os cristãos verdadeiros. Ambas dizem respeito à maneira pela qual os crentes devem viver no intervalo entre a primeira e a segunda vindas de Cristo. As virgens esperam; os servos trabalham.
A palavra “talento” nessa parábola não se refere a habilidade, mas a uma unidade de peso. No mundo antigo, um talento era uma unidade de 35 quilos de ouro, prata ou bronze. Tratava-se, portanto, de um valor exponencial.
O tema principal dessa parábola é como devemos administrar os bens que o Senhor nos confiou até a sua volta. É uma parábola sobre mordomia. Jesus é o dono dos bens; nós somos seus mordomos. Fritz Rienecker entende que esses talentos representam tudo o que recebemos de Deus como dádivas naturais e sobrenaturais. Ele entende por dádivas naturais nosso corpo, nossos dons, nossos talentos, nossa boa educação, nossa vida profissional; e, por dádivas sobrenaturais, o próprio Espírito Santo, a salvação, a oração, a Palavra e a graciosa direção diária. O texto pode ser dividido assim: a distribuição dos talentos (25.14,15), o uso diversificado feito dos talentos (25.16–18), a prestação de contas quando do regresso do senhor (25.19–27), a lição ensinada (25.28–30).
Como administrar os recursos que Deus colocou em nossas mãos?
1- Em primeiro lugar, reconheça o Senhor como aquele que lhe confiou os seus tesouros (25.14–18). O senhor, dono dos bens, ausenta-se do país e confia tesouros a seus servos. Que privilégio sermos achados dignos de cuidar dos bens do nosso Senhor! Que honra sermos objetos de sua confiança! É pura generosidade do Senhor confiar às nossas mãos os seus tesouros. O Senhor, sendo generoso conosco, não deixa também de ser justo, uma vez que confia seus talentos a cada servo de acordo com sua própria capacidade (25.15). O Senhor não exige o mesmo de todos nem confia mais a alguém do que essa pessoa pode realizar. Deus nunca nos cobrará além daquilo que ele mesmo nos deu. Ele não exigirá de nós além de nossa capacidade.
2- Em segundo lugar, trabalhe com zelo e fidelidade para honrar o Senhor (25.19–23). Você demonstra sua fidelidade multiplicando os recursos que seu Senhor colocou em suas mãos (25.20,21a,22,23a). Essa fidelidade será recompensada pelo Senhor (25.21,23). Você terá o elogio do Senhor, maiores responsabilidades e, ainda, a alegria da sua intimidade.
3- Em terceiro lugar, não seja negligente com os recursos do Senhor (25.24–30). O servo mau e negligente nutriu um pensamento errado acerca de seu senhor. Considerou-o severo e injusto. Em vez de fazer render os recursos colocados em suas mãos, enterrou-os. Foi movido pelo medo, e não pelo zelo fiel. Sua negligência covarde resultou em esterilidade (25.24,25). O que foi colocado em suas mãos não apenas estagnou, mas retrocedeu, porque, se ele tivesse aplicado os recursos de seu senhor, pelo menos teria o lucro da correção monetária. Concordo com Fritz Rienecker quando ele diz que aquele que pensa somente em si não apenas prejudica a obra do Senhor, mas prejudica a si próprio também. Ao servo inútil, o talento é tomado e transferido a outro. Vale destacar que a negligência é solenemente penalizada (25.26–30). É penalizada com a repreensão do Senhor (25.26,27), com a perda de responsabilidade (25,28,29) e com o banimento eterno da proximidade com o Senhor (25.30).
V - UMA ANALISE DOS DONS EM ROMANOS 12.
Temos vários dons. Nesta lista, os dons são dados pelo Pai. Em 1Coríntios 12, os dons são dados pelo Espírito. Em Efésios 4, os dons são dados pelo Filho. Os dons mencionados em Romanos 12.6–8 são divididos em duas categorias: dons de fala (profecia, ensino e exortação) e dons de serviço (servir, contribuir, liderança e mostrar misericórdia). É bastante óbvio que o apóstolo não está falando de cargos, mas de dons. Nem todo dom implica um cargo diferente. Muitos dons não exigem nenhum cargo. Consideraremos a seguir esses dons espirituais.
1- O dom de profecia. “[…] se profecia, seja segundo a proporção da fé” (12.6b). William Barclay diz que, no Novo Testamento, a profecia raramente tem a ver com a predição do futuro; geralmente se refere à proclamação da Palavra de Deus (1Co 14.3,24,31). Devemos fazer uma distinção entre o ofício de profeta no Antigo e Novo Testamentos e o dom de profecia. Hoje não há mais profetas no sentido daqueles primeiros profetas, que se tornaram o fundamento da igreja (Ef 2.20) e receberam a revelação divina para o registro das Escrituras. Hoje qualquer manifestação subsequente deste dom deve ser submetida à doutrina autorizada dos apóstolos e profetas originais, conforme consta do cânon das Escrituras. Hoje Deus não revela mais “verdade nova” diretamente. Sendo, assim, o dom de profecia é o dom de entender as Escrituras e explicá-las. É apresentar ao povo de Deus verdades recebidas não por revelação direta, mas pelo estudo cuidadoso da Palavra de Deus, completa e infalível. Quando Paulo diz: “Se profecia, seja segundo a proporção da fé”, precisamos entender que “fé” aqui não é subjetiva, mas fé objetiva, ou seja, o conteúdo geral das Escrituras (Jd 3; 1Pe 4.10,11).
2- O dom de ministério. “Se ministério, dediquemo-nos ao ministério…” (12.7a). Se a profecia envolve demonstrar o amor de Cristo aos homens pela pregação da Palavra; a diakonia, “o dom de serviço”, implica demonstrar o amor de Cristo às pessoas por atos de serviço. Quem tem esse dom é especialmente prestativo. Está sempre atento e disposto a ajudar e servir (Lc 10.40).
3- O dom de ensino. “[…] ou o que ensina esmere-se no fazê-lo” (12.7b). A mensagem de Cristo não deve ser apenas proclamada, mas também explicada. Quem tem o dom de ensino apresenta propensão natural para o estudo. Trata-se do indivíduo que investe na pesquisa, que se deleita no exame da Palavra e se alegra em compartilhar com outros esse conhecimento. Envolve a habilidade de aprofundar-se nas insondáveis riquezas do evangelho de Cristo e aclará-las em detalhes para a igreja (At 13.1; 15.35; 20.20; 1Tm 2.2).
4- O dom de exortação. “Ou o que exorta faça-o com dedicação” (12.8a). Se o ensino se dirige ao entendimento, a exortação é dirigida à consciência e às emoções. Estes devem sempre estar juntos, pois enquanto a exortação recebe conteúdo do ensino, o ensino recebe sua força da exortação. O dom de exortação é a habilidade de estar do lado de outra pessoa para encorajá-la, fortalecê-la e consolá-la. Quem tem o dom de exortação faz a aplicação pessoal do que é declarado pelo profeta e praticado pelo mestre. Este é o dom de tornar a doutrina viva na vida do cristão, despertando-o, encorajando-o, corrigindo-o, a fim de que ele tenha a vida de Cristo (15.14)
5- O dom de contribuição. “[…] o que contribui, com liberalidade” (12.8b). O dom de contribuição é a habilidade especial de ofertar, repartir e compartilhar bens materiais com as pessoas em suas necessidades, na medida de suas posses e até acima delas (2Co 8.1–5). Aqueles que de graça receberam devem livremente dar, sem desejo ulterior de ganho ou desejo ostentatório de fama. É importante ressaltar que não está em foco a quantidade, por isso não só os ricos podem contribuir. Quem tem esse dom jamais vê a contribuição como um peso ou uma obrigação, mas como um privilégio.
6- O dom de presidência. “[…] o que preside, com diligência” (12.8c). Deus habilita alguns membros do corpo a exercer a liderança, dando-lhes o dom da presidência. Trata-se do dom de dirigir, liderar, controlar (1Ts 5.12; 1Pe 5.2,3). A palavra grega proistemi traz a ideia de ficar em pé diante de alguém. Liderar é ir adiante de alguém para guiar (Jo 10.27). O líder é aquele que inspira confiança nos outros. É aquele que está disposto a correr riscos e enfrentar perigos para defender seus liderados. O líder é aquele que sobe nos ombros dos gigantes e tem a visão do farol alto, e ao mesmo tempo tem uma atitude de humildade e usa sua liderança não para servir-se dos liderados, mas para servi-los com diligência. O líder é aquele que delega responsabilidades e ao mesmo tempo encoraja e aprecia o trabalho dos liderados. O líder é aquele que influencia pelo exemplo, é organizado, analítico, ágil e eficaz. Adolf Pohl diz que uma igreja na qual a função diretiva é negligenciada equivale a um rio sem leito. Muitas coisas se dispersam e não produzem resultado.
7- O dom de misericórdia. “[…] quem exerce misericórdia, com alegria” (12.8d). O dom de misericórdia é aquele que leva o cristão a envolver-se com os aflitos e socorrê-los em suas angústias, fazendo isso com espontaneidade e alegria. É o dom de consolo. É lançar o coração na miséria do outro. É sofrer com o outro; é ter empatia (Lc 10.33–35). Adolf Pohl diz que, assim como Jesus, sua igreja se torna um ímã para um número enorme de fracos, doentes e pobres. Por isso, há diversos membros que recebem com clareza especial o carisma de Jesus de compadecer-se. O dom de misericórdia move as ações sociais mais sublimes. Certamente George Muller foi movido por esse dom ao criar na cidade de Bristol, na Inglaterra, orfanatos para cuidar de crianças pobres. Não há dúvida de que Robert Raykes foi motivado por esse dom espiritual ao criar a Escola Dominical em Gloucester, na Inglaterra, em 1780, com o propósito de ensinar a Palavra de Deus às crianças que andavam errantes pela cidade. Aqueles que têm o dom de misericórdia identificam-se espontaneamente com os que sofrem (Hb 13.3) e manifestam compaixão em ações práticas que aliviam o sofrimento (Jó 29.15,16; Pv 31.20).
BIBLIOGRAFIA
- De Almeida, J. F. (2017). Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.Revista
- Lopes, H. D. (2019). Mateus: Jesus, o Rei dos Reis (1a edição, p. 729). São Paulo: Hagnos.
- Lopes, H. D. (2010). Romanos: O Evangelho Segundo Paulo (1a edição, p. 408). São Paulo: Hagnos.
- Revista Ensinador Cristão – CPAD.
11- IMPORTÂNCIA DOS CREDOS E DAS CONFISSÕES NA IGREJA
INTRODUÇÃO
Algumas das palavras mais trágicas na Bíblia são aquelas que descrevem a condição da igreja nos dias dos juízes: "Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto" (Jz 21.25). Essas palavras descreveram uma anarquia absolutamente devastadora. Os nossos dias são marcados pela mesma anarquia não apenas na cultura, mas também na igreja. Congregações e indivíduos estão fazendo as coisas do seu jeito. Uma congregação excomunga um homem por imoralidade. Ele desce a rua e outra congregação não apenas o recebe, mas faz dele um oficial. Ou à medida que cresce o número de “cristãos" que se divorciar sem base bíblica, parte do acordo do divórcio determina quem fica na igreja local e quem deve ir para outra congregação.
Um fator que contribui de maneira significativa para a anarquia e a consequência dela é o protesto comumente ouvido: "Nenhum credo, só a Bíblia; nenhuma confissão, só Jesus". Uma grande maioria de cristãos, bem como de congregações, rejeita os credos e as confissões prontas. Eles o fazem porque acreditam que a Bíblia sozinha é suficiente para nos guiar e que os credos são adições à Bíblia, feitas por homens. Neste capitulo, para explicar alguma coisa com esse propósito, vou procurar demonstrar que a Bíblia ordena à igreja fazer e usar credos, bem como mostrar como devemos fazer uso de nossa confissão.
Minhas observações são baseadas em 2 Timóteo 1.13,14.
Primeiro, no entanto, vou dar uma definição para que possamos entrar em acordo sobre o que estamos discutindo. O termo credo é uma palavra emprestada do latim, credo, que significa eu creio. O seu credo, pessoal, declara aquilo em que você crê e o que é importante para você. Assim sendo, na verdade, a declaração "nenhum credo, só a Bíblia" é um credo pessoal.
Equivale a você dizer: "Eu creio que nem eu nem a igreja precisamos de um credo. A Bíblia sozinha é suficiente para me guiar". Como pretendo demonstrar a seguir, não existe conflito entre a doutrina da suficiência das Escrituras e o uso de credos.
Ao longo da História, a igreja tem usado credos para resumir o que acredita que a Bíblia ensina. Seus credos e confissões nos têm dado um resumo preciso das doutrinas essenciais (o Credo Apostólico) ou uma refutação detalhada do erro e articulação de uma verdade em particular sob ataque (o Credo Niceno). R. L. Dabney define um credo:
E uma declaração resumida daquilo que alguns professores religiosos acreditam com relação ao sistema cristão, expresso com suas próprias palavras não inspiradas. Porém, eles alegam que essas palavras expressam, correta e resumidamente, o verdadeiro sentido das palavras inspiradas. A igreja registra diversos credos de mestres individuais cristãos; mas os credos do mundo protestante moderno são documentos cuidadosamente elaborados por algum tribunal da igreja, de autoridade suprema, nas suas diversas denominações, ou por algum comitê de grande saber, nomeado por eles e depois formalmente adotados por eles como o seu padrão doutrinário.
Exemplos de credos e confissões são: o Credo Apostólico, o Credo Niceno, o Catecismo de Heidelberg, a Confissão de Fé de Westminster, a Confissão de Londres de 1689 (uma confissāo batista), os Trinta e Nove Artigos e a Confissão de Augsburg. Embora difiram em forma, um credo geralmente consiste de uma série de afirmações breves e sucintas, expressas como "eu creio" ou "nós cremos”; um catecismo usa perguntas e respostas para ensinar a verdade; uma confissão normalmente é uma exposição mais detalhada da verdade. No restante deste capítulo, vou me referir a todos eles pelo termo geral credo.
1. A BASE BÍBLICA PARA OS CREDOS
Tendo definido o que queremos dizer por credos, vamos responder a pergunta: "Eles são bíblicos?". Em 2 Timóteo 1.13,14, Deus ordena o uso de credos. Encontramos nele um mandamento duplo: "Mantém o padrāo das sãs palavras" e Guarda o bom depósito". Muitos opositores aos credos argumentam que desmerecem a suficiência das Escrituras. Ao contrário, as Escrituras ensinam a fazer uso dos credos.
Nesses dois versículos, primeiro Paulo faz referência ao "padrão das sãs palavras". Sās palavras que expressam as verdades ensinadas pelas Escrituras. As palavras constituem a expressão da verdade que Timóteo recebeu de Paulo, o qual foi, por sua vez, diretamente ensinado por Cristo. A palavra sã significa verdade e precisão. Usamos a expressão: "Ele nos deu um diagnóstico preciso". Então, estas são as doutrinas que dão vida (1Tm 1.10; 6.3; 2Tm 4.3;Tt 2.7).
Dessa maneira, Paulo declara que deu a Timóteo uma forma ou padrão da doutrina apostólica. Ele não está se referindo à inteireza de corpus inspirado, mas ao resumo que confiou a Timóteo.
Essa interpretação é reforçada no mandamento paralelo do versículo 14 quando ele fala “guarde esse precioso tesouro" (2Tm 1.14, Nova Tradução da Linguagem de Hoje) [Na versão Revista Atualizada: "Guardar o bom depósito”]). Em outras palavras, essa forma ou padrão da sã doutrina é um tesouro, um resumo especifico que Paulo confiou a Timóteo. Em 2 Timóteo 2.2, ele faz referência a esta mordomia e ordena a Timóteo que a confie a outros: "O que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros".
Paulo, portanto, refere-se ao resumo da doutrina apostólica que ele dera a Timóteo. Ele descreve esse resumo em outros pontos como "as tradições". “Eu vos louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei" (1Co 11.2). "Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" (2Ts 2.15; cf. 3.6). É interessante observarmos aqui que as tradições ensinadas não foram simplesmente doutrinas que ele revelou em suas epistolas, mas também doutrinas que Ihes ensinou verbalmente (o resumo da mensagem apostólica). Essas tradições nada têm a ver com as tradições posteriormente ensinadas pela Igreja Católica Romana. As tradições da lgreja Católica Romana não são resumos de doutrinas bíblicas, mas sim ensinamentos adicionados ao ensinamento da Bíblia. Nós negamos a autoridade das tradições católicas romanas. O que Paulo ordena em 2 Timóteo 2.13,14 é reforçado pelo uso dos credos bíblicos. Em Deuteronômio 6.4, encontramos a grande confissão, repetida até o dia de hoje na sinagoga: "Ouve, Israel, o SENHOR NOSSO Deus, é o único SENHOR".
O próprio Paulo cita duas confissões. A primeira encontra-se em 1 Timóteo 3.16: "Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória". O termo traduzido na Nova Bíblia Padrão Americana confissão comum literalmente significa “confessadamente", enfatizando que havia um acordo comum ou compromisso. Com relação à declaração em si, o Dr. George Knight argumenta que parece ser uma afirmação da igreja apostólica, um hino ou um credo; não podemos ter certeza.' Acho que era um credo; mas mesmo se fosse um hino, Paulo o cita aqui como um resumo Credal, comum à igreja.
Em 2 Timóteo 2.11-13, Paulo dá uma de suas declarações fidedignas: "Fiel é esta palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo".O Dr. Knight sugere que esta é uma afirmação credal que teve origem em Roma:
Apenas podemos oferecer uma resposta provável para a questão da origem da afirmação. Visto que 2 Timóteo foi escrita em Roma, então é possível que a igreja em Roma tenha desenvolvido a primeira linha pela reflexão em Romanos 6 e pela utilização de Romanos 6.8 em uma forma resumida. Isto é provável não apenas por causa desta ligação, mas também por causa da ideia de morrer com Cristo ser mais bem desenvolvida em Romanos 6 que em qualquer outro ponto no Novo Testamento. Visto que Romanos 6 relaciona morte com Cristo no Batismo, seria apropriado conjecturar que a declaração teria sido usada como confissão de fé na hora do Batismo. A terceira linha parece refletir as palavras de Jesus em Mateus 10.33 e em Lucas 12.9, lançada aqui no molde das outras linhas. Não existe semelhança muito próxima entre a segunda e a quarta linhas das afirmações do Novo Testamento. Logo, se pode apenas dizer que duas fontes semelhantes tiveram impacto na declaração, e que as outras linhas teriam sido acrescentadas conforme necessário, quando os convertidos estavam confessando a fé deles e recebendo o Batismo.
Reconhecemos, desse modo, que a Bíblia nos ensina a usar os credos. Podemos acrescentar ao argumento exegético um grande número de outras razões inferidas. Cada tradução da Bíblia é, em certo grau, o que o tradutor crê que a Bíblia ensina. Inerente à tradução em si, nenhuma tradução do texto hebraico e do grego é neutra. A tradução envolve interpretaçāo, a qual envolve compromissos de fé. R. L. Dabney escreveu:
Todos os protestantes acreditam que a Santa Escritura deveria ser traduzida para as línguas vernáculas de todas as nações. Somente os textos em grego e em hebraico foram inspirados; a tradução deve ser não inspirada. Portanto, essas versões são exposições humanas não inspiradas dos originais divinos. A versão de Wycliffe, de Lutero e de Tyndale são apenas aquilo que acreditam, como seres humanos, que as palavras hebraicas e gregas expressam o que o Espirito Santo disse. Esses tradutores podem ter dito com verdade perfeita, cada um: "Estas versões em inglês, em alemão são o meu Credo". A igreja que usa tal tradução para instruir seu povo e o estabelecimento até de suas doutrinas mais essenciais está usando um credo de composição humana; aqueles que exclamam: "As Santas Escrituras por si mesmas são nosso credo único e suficiente", posicionam-se em uma atitude ridícula sempre que usam a traduçāo vernácula das Escrituras, pois aquilo que professam sustentar como credo deles é ainda uma exposição humana não inspirada.
Além do mais, todo sermão é o credo do pregador sobre o que o texto do sermão significa para ele. A consequência consistente de "nenhum credo, só a Bíblia é nenhuma pregação; apenas leia as Escrituras. Mas a Bíblia nos ordena pregar (2Tm 4.2). Novamente, citamos Dabney:
Não há dúvida de que Deus ordenou como um meio de graça e doutrinação a explicação oral e o reforço das verdades divinas por todos os pregadores. Assim, Esdras faz (Ne 8.7) os sacerdotes lerem o livro da lei distintamente, darem a explicação e fazerem o povo compreender a leitura. Paulo ordena a Timóteo (2Tm 4.2): "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Ele, como um apóstolo de Cristo, não apenas permite, mas ordena cada pastor e doutor não inspirado a dar sua mensagem, suas exposições humanas e não inspiradas do que acredita ser a verdade divina; isto é o mesmo que dizer seu credo. Se tais credos humanos, quando compostos por um único mestre e entregues oralmente, extempore (sem preparação elaborada), são meios apropriados de instrução para a igreja, com maior razão devem ser os credos apropriados e escriturais, que são as produções cuidadosas, maduras e conjuntas de pastores instruídos e piedosos, entregues com toda a precisão dos documentos escritos. Aquele que consistentemente deseja banir os credos deve silenciar toda pregação e reduzir o ensinamento da igreja à recitação exata das palavras da Santa Escritura, sem fazer observações ou comentários.
Um credo da igreja professa ser, conforme anteriormente observado, meramente uma exposição resumida daquilo que as Escrituras ensinam. Ele professa ter sido derivado das Escrituras e se apoiar nelas para toda a sua autoridade. Naturalmente, quando qualquer pessoa se subscreve a ele, está longe de desonrar a Bíblia, que ela publicamente homenageia. Ela simplesmente declara, por meio de um ato solene, seu entendimento da Bíblia - em outras palavras, qual doutrina ela entende que a Bíblia contém.
2. O PROPÓSITO PRÁTICO DOS CREDOS
Tendo determinado, então, a garantia bíblica dos credos, vamos ver o
que a Bíblia ensina sobre o uso deles ou seus propósitos. Em 2 Timóteo 1.13,14 aprendemos que o credo deve servir como um resumo apropriado da fé ortodoxa para comunhão e entendimento. A ordem “mantém" significa para reter, conservar como um tesouro especial. Quando mantemos, ele serve como padrão de comunhão e comunicação.
2.1. Primeiro, ele serve como um padrão de comunhão. Uma das coisas que o credo faz para a igreja é promover a unidade. Amós fez a pergunta: “andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?" (Am 3.3). Não podemos juntos a menos que estejamos de acordo. Pense em quão útil é, para a congregação e para aqueles que visitam a congregação, saber o que a igreja acredita e que vai ensinar e pregar. Por esta razão, as igrejas reformadas alemās e holandesas se referem às declarações confessionais delas como "As Três Formas de Unidade". A igreja não está acrescentando nada à Bíblia, mas dizendo: "Acreditamos que é isto que a Bíblia ensina. Se você vai se juntar a nós, deve estar ciente desses ensinamentos".
Em todas as igrejas credais, os oficiais expressam sua unidade pela subscrição às doutrinas concordantes no credo. Este compromisso garante harmonia doutrinária. Dabney diz: "Se uma igreja quiser dar um testemunho honesto, alguma coisa a mais é necessária como um teste de harmonia nas crenças, uma explicação clara em outros termos, que, embora humanos, não foram mal interpretados" Igrejas credais não declaram que aquelas igrejas que não concordam com elas em todas essas doutrinas não são igrejas. Reconhecemos como igrejas verdadeiras todas aquelas que professam as doutrinas comumente aceitas do Cristianismo evangélico. Novamente citamos Dabney:
Reconhecemos como outras denominações no exército sacramental todas aquelas que ensinam as doutrinas fundamentais e conservam os princípios morais do evangelho de Cristo. Acreditamos que a unidade visível, pela qual Deus é para ser glorificado, é encontrada no reconhecimento fiel dos sacramentos umas das outras, ordens e disciplina da igreja (limitada à admoestação e penalidades espirituais), de toda denominação na igreja católica; não em uma confusão e amálgama de todos em um corpo eclesiástico visível; um resultado apenas tornado viável por uma ou outra alternativa criminal: papismo ou igrejismo amplo.”
Alguns objetam que o uso do credo para promover comunhão constrange a consciência pela imposição do conformismo às pessoas. Respondo que, nas comunhões presbiterianas, os membros individuais não são obrigados a subscrever a um credo. Eles são recebidos na base de uma profissão de fé crível. Todos os que mantêm as doutrinas básicas da fé evangélica podem ser membros comungantes. Mas, mesmo assim, a unidade é protegida, visto
que o credo da igreja deixa claro o que ela confessa e ensina. Os membros concordam em se expor a esse ensinamento e de maneira nenhuma se opor a ele na comunhão.
Além do mais, a igreja é uma organização voluntária. Não vivemos em um país onde só podemos pertencer a uma igreja apenas. Ninguém é, portanto, obrigado a se submeter a qualquer credo em particular, a menos que se una a essa igreja de livre e espontânea vontade. Samuel Miller nos chama atenção:
Não será, certamente, negado por ninguém que um corpo de cristãos tem direito, em todo país livre, de associar e andar junto, baseado em tais princípios conforme eles mesmos escolham concordar, não inconsistente com a ordem pública...
Eles não têm o direito, na verdade, de decidir ou de julgar pelos outros, tampouco podem obrigar qualquer homem a se associar a eles. Mas é, sem dúvida, privilégio deles julgarem por si mesmos, concordar com o plano de sua própria associação, determinar sobre que principio receberão outros membros em sua irmandade e formar um conjunto de regras que excluirão do corpo aqueles com quem não podem andar em harmonia.
2.2. Segundo, o credo também auxilia a igreja na comunicação da verdade. Este uso envolve tanto interpretação quanto instrução. Porque resumem o ensinamento da Bíblia, os credos são ferramentas de valor incalculável para guiar na interpretação das Escrituras. Os cristãos acreditam que as Escrituras interpretam as Escrituras e que a Bíblia não se contradiz. Credos, confissões e catecismos expressam um consenso nas verdades principais da Bíblia. Conforme as pessoas aprendem o catecismo, por exemplo, ele Ihes dá uma base por meio da qual podem interpretar a Bíblia. Westcott disse, com relação ao Credo Apostólico:
Um resumo como o Credo Apostólico serve como uma chave na leitura da Bíblia. Ele nos apresenta as características evidentes na revelação, que experiências anteriores provaram ser pontos críticos de conhecimento espiritual. Oferece centros, por assim dizer, em volta dos quais podemos agrupar nossos pensamentos e para os quais podemos referir as lições postas à nossa frente. Evita que desviemos por caminhos secundários sem rumo ou segundo a nossa vontade, não por fixar limites arbitrários para inquirir, mas por traçar as grandes linhas ao longo das quais os crentes se moveram
Por exemplo, lemos em 1 Samuel que Deus se arrependeu de ter feito Saul rei. A impressāo imediata é que Deus tinha mudado de ideia. Mas a criança instruída na definiçāo do Breve Catecismo sobre Deus sabe que Deus não muda e seu decreto é irrevogável. Então, conquanto ainda não apreendendo o significado exato da linguagem, mesmo o leitor jovem, instruído no Catecismo, evitará fazer falsas interpretações.
Intimamente relacionada com a interpretação encontra-se a instrução.Qual é o caminho mais eficiente para dar aos cristāos jovens um compêndio de fé do que pelo ensino dos catecismos e confissões de fé da igreja? No Ato de aprovar o Catecismo Maior de Westminster, em 1648 a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana Escocesa elogiou esse catecismo como "um rico tesouro para aumentar o conhecimento entre o povo de Deus"." Warfield aponta o valor educacional do catecismo em uma história sobre D. L. Moody. Quando Moody estava visitando um amigo em Londres, um rapaz visitou Moody para fazer-lhe algumas perguntas. Ele disse: "O que é oração? Eu não entendo o que você quer dizer com isto!”.Enquanto Moody estava falando com o rapaz, a filha de 9 anos do seu hospedeiro veio descendo as escadas. Seu pai lhe chamou e disse: "Diga a este senhor o que é oração". Vou transcrever a história para lhes contar o que aconteceu:
Jenny não sabia de nada do que estava acontecendo na sala, mas entendeu muito bem que estava sendo convocada a dar as respostas do Catecismo. Entāo, de pé, assumiu uma posição solene, cruzou suas mãos na frente, e como uma pequena e boa menina, que estava ali para "dar suas respostas às perguntas", disse na sua voz infantil, alta e clara: "Oração é um santo oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas misericórdias” (pergunta 98, Breve Catecismo de Westminster). “Ah! Esse é o Catecismo!, Moody disse: “graças a Deus por esse Catecismo”.
Além de servirem como resumo apropriado da fé ortodoxa para comunhão e comunicação, os credos servem também como instrumento para defesa da fé. Paulo recomenda este uso no versículo 14: "Guarda". Este é um termo militante. É nossa obrigação proteger e defender vigilantemente a verdade das Escrituras. Judas nos ordena a batalhar, diligentemente, pela fé (Jd 3). A fé está sob ataque, e a igreja é incumbida com a responsabilidade de defende-la. Paulo diz em 1 Timóteo 3.14,15: "Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade". Parte da responsabilidade implícita no fato de a igreja ser coluna e baluarte é a defesa da verdade.
Por exemplo, muitos de vocês já receberam uma visita de um membro das seitas Mórmon ou Testemunhas de Jeová, que, quando se pergunta a eles: “Você acredita que Jesus é o Filho de Deus?", respondem: "Sim". Então, você precisa esclarecer melhor sua pergunta: "Você quer dizer que ele é eternamente Deus, igual a Deus o Pai? Você nega que ele foi criado?". Por toda a história da igreja, Os credos têm exercido suas funções. Originalmente, a igreja desenvolveu credos para se proteger contra erros. Eles continuam servindo a este propósito. Não há melhor maneira de expor o erro de um mórmon ou testemunha de Jeová do que fazendo uso da pergunta e resposta do Breve Catecismo de Westminster: "Quem é o Redentor dos escolhidos de Deus? O único redentor dos escolhidos de Deus é o Senhor Jesus Cristo que, sendo o eterno Filho de Deus, se fez homem, e assim foi e continua a ser Deus e homem em duas naturezas distintas, e uma só pessoa, para sempre" (Pergunta 21)." Além do mais, um crente, com base nos credos da igreja, pode falar corajosamente para os seguidores das seitas que o ponto de vista deles é um desvio radical da fé cristā.
Devemos guardar a verdade e a igreja por causa dos falsos mestres, por que “dentre vós mesmos, se levantarāo homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles" (At 20.30).
3. O USO ESPIRITUAL DOS CREDOS
Algumas pessoas fazem objeção ao uso dos credos porque, algumas vezes, seus adeptos os apresentam de uma maneira arrogante e ditatorial. Em 2 Timóteo 1.13,14, Paulo nos ensina como usar os nossos credos. Ele nos ordena no versículo 13 a manter o padrão "com fé e com o amor que está em Cristo Jesus". Observe que não deve haver dicotomia entre fé vital em Cristo e ortodoxia credal. Se nosso credo é bíblico, ele nos apontará para Jesus Cristo como o Salvador dos pecadores. Devemos manter o nosso credo e expressar suas verdades de maneira a reconhecer o fato de que alguns outros cristãos sinceros não concordam conosco em todos os pontos. Devemos batalhar diligentemente pela verdade, enquanto mostramos amor a Deus e ao nosso próximo. Além do mais, nossos credos irāo dirigir nossa atenção para a beleza e a glória do Deus triúno. O grande propósito da doutrina é nos capacitar a conhecer e a servir a Deus. Assim sendo, a igreja fará sua confissão com louvor e adoração, e irá sustentar os nossos credos e confissões de modo evangélico. As doutrinas resumidas nos nossos credos são para este fim, e devemos usá-las de acordo.
Além do mais, conforme aprendemos no versículo 14, somos ordenados a manter e a guardar a verdade espiritualmente: "Guarda o bom depósito, mediante o Espirito Santo". Aqui, aprendemos que os nossos credos não são bastões para serem usados para espancar outras pessoas, obrigando-as a aceitarem a nossa posição por meio do poder do intelecto. Devemos guardar o bom depósito (o bom tesouro) na dependência do Espírito Santo. Somente ele poderá levar homens e mulheres a entenderem e a abraçarem a verdade que amamos. Paulo nos relembra em 2 Timóteo 2.24-26 a ensinar a verdade com paciência: "E necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus Ihes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade”.
O Salmo 33.16,17 diz que a vitória não vem pela carne: "Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem por sua muita força se livra o valente. O cavalo não garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar". Depois, ele nos relembra que só Deus é nosso auxilio: "Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia, para livrar lhes a alma da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes a vida. Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxilio e escudo" (vs. 18-20).
Em resumo, vimos que Deus ensina à igreja o uso dos credos como um compromisso para manter e defender a fé. Os credos são ricos tesouros confiados a nós. Eles nos dão fundamento para a comunhão e a comunicação das verdades da Bíblia. Protegem a igreja e a verdade confiada a ela. Em vez de substituir as Escrituras, são de origem e conteúdo escritural. Acredito que sou abençoado por ser membro de uma igreja que adere a um credo que claramente define as grandes doutrinas da fé cristā histórica.
BIBLIOGRAFIA
De Almeida, J. F. (2017). Nova Almeida Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil.
Pipa, Joseph. Avante, Soldados de Cristo. São Paulo: Cultura Cristã.